domingo, 2 de junho de 2013



Até bem pouco tempo, as pessoas acreditavam que qualquer expressão sexual que fugisse dos padrões de comportamento socialmente definidos para o homem e a mulher era considerado anormalidade, ou mesmo doença. No entanto, estudos mostram que não é bem assim.
Para o autor do livro os Onze sexos, Ronaldo Pamplona, a sexualidade é formada por cinco elementos: o sexo biológico, a identidade de gênero, o papel sexual, a identidade sexual e, por fim, a orientação sexual. A combinação entre estes elementos marca as diferenças no jeito de cada pessoa ser e viver sua sexualidade. Vamos entender um pouco o que quer dizer cada um destes elementos.

Sexo Biológico
Quando um espermatozoide penetra o óvulo ocorre a fecundação. Todo óvulo contém um cromossomo X, já os espermatozoides podem conter os cromossomos X ou Y. Se o espermatozoide que o fecundou for do tipo X, o bebê será do sexo feminino. Mas, se o vencedor for do tipo Y, o bebê será do sexo masculino.
A partir de então, cada um dos sexos forma o seu aparelho genital, inclusive um tipo de glândula interna específica: ovário nas meninas e testículo nos meninos. Externamente, as meninas, quando bebês, são identificadas pela presença da vulva, vagina e clitóris e os meninos pelo pênis e a bolsa escrotal.
Identidade de Gênero e Papel Sexual
Por volta dos 2 ou 3 anos, as crianças descobrem os seus genitais. Essa descoberta anatômica tem uma grande importância na tomada de consciência de gênero e no desenvolvimento dos papéis sexuais. Os pequenos associam seu tipo de genital ao dos pais e, de acordo com a similaridade, imitam os comportamentos do pai ou da mãe.
Além disso, meninos e meninas são tratados de forma diferente desde a hora em que os adultos descobrem seu sexo, muitas vezes, ainda na barriga da mãe. Por meios de gestos, palavras, brincadeiras, prêmios e castigos, a família, a escola e a mídia passam para a criança informações e modelos que ensinam como eles esperam que um menino ou uma menina se comporte. Isto é o Papel sexual – a forma como cada um expressa sua sexualidade.

Identidade Sexual
A identidade sexual é o que o indivíduo acredita ser. E isto é um processo de construção psicológica que envolve o sexo biológico e o comportamento social. Para um garoto, por exemplo, acreditar que ele é homem, é preciso que ele saiba que é do sexo masculino, se reconhecer como homem e saber como um homem deve agir.
Parece óbvio, mas a aquisição da identidade nem sempre é assim. Os travestis, por exemplo, são pessoas com uma identidade sexual variável: num momento sentem-se homens, no outro, mulheres. Já os transexuais têm uma identidade sexual fixa, ou seja, acreditam serem homens ou mulheres, só que o seu corpo não corresponde a esse sentir. Um exemplo conhecido é o da Roberta Close.

Orientação Sexual
A forma como cada pessoa se sente – a identidade sexual – é individual e pessoal, bem como o desejo por alguém para amar e fazer sexo. A Orientação sexual é exatamente a direção para qual se inclina este desejo, de acordo com o gênero pelo qual a pessoa se sente atraída. Desta forma, existem três tipos de orientação sexual: heterossexual, quando se deseja pessoas do sexo oposto; homossexual, que é desejo por alguém do mesmo sexo; e bissexual, quando se deseja pessoas de ambos os sexos.
Assim, um homem heterossexual, por exemplo, nasce com os genitais masculinos, sabe que pertence a este gênero, aprende a se comportar como a sua cultura espera, se sente homem e deseja sexualmente pessoas do sexo oposto. No homem homossexual, todos os elementos da sua sexualidade ocorrem como no homem hetero, só que o seu desejo sexual está direcionado a alguém do seu mesmo sexo. Já na pessoa bissexual a atração pode ocorrer tanto por um gênero como pelo outro.
Como vocês podem perceber, a orientação sexual é um desejo que não depende da vontade consciente da pessoa. Ninguém decide ser hetero, homo ou bissexual de uma hora para outra, e muito menos por que é moda ou alguém falou para ser assim. Quando se tem um desejo que não corresponde às expectativas sociais, o indivíduo sofre bastante com a discriminação, o preconceito e a ignorância das pessoas.

Combate ao preconceito
Nestes últimos cinco anos, vários estudos, como o  Juventudes e Sexualidades, da UNESCO; Revelando Tramas e descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas, estudo sobre as escolas do Distrito Federal, de Miriam Abromovay, Ana Lucia Cunha e Priscila Pinto Calaf; Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e ainda Diversidade e Homofobia no Brasil, publicada pela Fundação Perseu Abramo, mostram o quanto, cada vez mais, a homofobia/transfobia (medo ou ódio irracional às pessoas LGBT) está presente na sociedade brasileira, inclusive nas escolas.
Por isso eu lamento muito o ocorrido com o material didático do projeto Escolas sem Homofobia, apelidado pejorativamente de Kit Gay, recolhido recentemente da rede pública de ensino devido à pressão de setores da sociedade. Este material traria, pela primeira vez, a oportunidade de a escola trabalhar com os alunos os diferentes jeitos sexuais de ser, mostrando de forma positiva que isto é uma condição humana como tantas outras e que merece ser respeitada.

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