domingo, 30 de novembro de 2014

Identidade negra e racismo

Valorizar a identidade negra e combater ações de discriminação e preconceito são o primeiro passo para se alcançar uma sociedade racialmente justa
No Brasil, a cor ou raça é autodeclarada: ao responder ao Censo Demográfico ou outras pesquisas, cada um diz se é preto, pardo, branco, amarelo ou indígena. Essa identidade normalmente se relaciona à cor da pele e a outras características físicas, não à ancestralidade. É comum, por exemplo, que um filho de pai ou mãe negra, mas que tem a pele mais clara, se declare branco. Em outros contextos, que não o da pesquisa, assumir a negritude é um ato político: trata-se de tomar para si a história e cultura do grupo, suas raízes, suas lutas.
A escola precisa colocar os alunos em contato com os elementos que formam cada grupo étnico brasileiro, para que eles sejam capazes de compreender a complexidade dessas identidades e, assim, se afirmar não apenas pela cor da pele ou do cabelo, mas também por outros elementos. Apesar de os conteúdos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/10/DCN-s-Educacao-das-Relacoes-Etnico-Raciais.pdf ) contemplarem esse esforço, ações específicas sobre a afirmação de cada identidade devem ser empreendidas nas escolas.
O primeiro passo é valorizar os agentes de todas as etnias, apresentando bons modelos de representações afirmativas. “Não se trata de vitimizar o negro ou tratá-lo como mocinho enquanto o branco seria o vilão. O papel da escola é mostrar essa identidade racial de maneira afirmativa, desligando-a das imagens que predominam nos meios de comunicação”, defende Paola Prandini, fundadora da Afroeducação. (http://www.afroeducacao.com.br/ ) Essas imagens são comuns em livros didáticos, que mostram africanos escravizados em situações de constrangimento e humilhação, e as representações de filmes e novelas, em que negros ainda não assumem papéis de destaque.
O professor precisa valorizar personagens negros em diferentes funções sociais, incorporando artistas, escritores e cientistas africanos e afrodescendentes no planejamento das aulas. Por meio desse contato, os alunos de diferentes raças passam a considerar natural a presença de afro-brasileiros em cargos de chefia ou como importantes pensadores. “Os próprios alunos podem se identificar com essas pessoas e reconhecer que é possível alcançar o sucesso”, defende Martha Abreu, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Racismo em discussão
Durante o século 20, a ideia de que o Brasil era uma nação miscigenada e de que aqui não existia racismo foi amplamente divulgada. É o famoso mito da democracia racial, como explica a socióloga Lilia Schwarcz no livro O Espetáculo das Raças. (http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10407 ) Ainda que muito presente na sociedade, diversas pesquisas e estatísticas já comprovaram as diferenças sociais profundas entre negros e brancos no país. Uma das pesquisas mais célebres sobre o assunto, conduzida por Lilia em 1988, mostrou que, apesar de 97% dos entrevistados dizerem não ser racistas, 98% afirmaram conhecer alguém que fosse. O resultado representa como a sociedade se comporta em relação ao racismo hoje: apesar de reconhecer sua existência, não o considera seu problema.
Na escola, a inclusão no currículo de conteúdos que tratam da história e cultura africana e afro-brasileira é um dos passos para o combate ao racismo, mas essa não pode ser a única ação. Os alunos e o restante da comunidade escolar precisam ser sensibilizados para o tema, de maneira que possam reconhecer o racismo em suas próprias atitudes e mudá-las.
“Devemos ser cuidadosos para não naturalizar ações que podem ser racistas e tratá-las apenas como brincadeira ou desentendimentos naturais”, alerta Martha. Trocas de ofensas, brigas e bullying devem ser tratados com cuidado especial quando envolvem grupos historicamente discriminados, e isso deve estar claro no regimento escolar.
Mais do que lidar com casos isolados ou abordar o tema apenas em datas comemorativas, a rotina da escola deve ter momentos de reflexão sobre o tema. Algumas atividades para esse fim são sugeridas no Guia Metodológico para a Educação das Relações Raciais, (http://www.acaoeducativa.org.br/relacoesraciais/wp-content/uploads/2013/12/Guia_Metodol%C3%B3gico.pdf ) organizado pela ONG Ação Educativa. Outra possibilidade é o uso de filmes para organizar as conversas com a comunidade escolar.(Conheça algumas sugestões na galeria abaixo.)

Mais sobre o tema

Reflexões sobre o racismo em documentário e ficção
Filmes são um bom ponto de partida para discussões sobre racismo. Conheça sugestões de títulos feitas por Paola Prandini, da Afroeducação (http://www.afroeducacao.com.br/ )

·         Menina Mulher da Pele Preta - Jennifer
Direção: Renato Candido de Lima | 2012 | Ficção | 29 minutos | Brasil
O filme – segundo episódio de uma série com cinco – conta a história de Jennifer, uma adolescente negra moradora da periferia paulistana. Com o auxílio de programas de computador, ela altera suas fotos para clarear sua pele e alisar seu cabelo. Por meio dessa história, o filme discute a valorização do branco e do negro na sociedade brasileira. Veja na íntegra.

·         Olhos Azuis
Direção: Bertram Verhaag | 1996 | Documentário | 90 minutos | EUA
A educadora americana Jane Elliot ministra um workshop sobre racismo. Ela determina que, no contexto do workshop, quem tiver olhos castanhos ou verdes será considerado superior aos participantes de olhos azuis. Assim, ela consegue fazer com que se reproduzam as brigas e desigualdades no tratamento racial. Veja na íntegra.


·         Vista Minha Pele
Direção: Joel Zito Araújo | 2003 | Ficção | 24 minutos | Brasil
O filme coloca a realidade dos negros em evidência ao propor uma inversão: narra a história de brancos e negros, em papéis trocados. A empregada da família negra rica é branca, os padrões de beleza são pautados na beleza negra etc. Nesse contexto, ele retrata a trajetória de uma aluna branca que tenta se adaptar nesse universo.Veja na íntegra.

·         A Negação do Brasil
Direção: Joel Zito Araújo | 2000 | Documentário | 92 minutos | Brasil
Por meio de análises e depoimentos de artistas negros, o filme discute a presença dos afro-brasileiros em uma das maiores paixões nacionais: as telenovelas. Apesar de o documentário ser de 2001 e o panorama apresentado por ele – do predomínio de brancos na televisão – dar indícios de mudança, a realidade mostrada ainda se aplica ao nosso cotidiano. Veja na íntegra.

·         Cores e Botas
Direção: Juliana Vicente | 2010 | Ficção | 16 minutos | Brasil
Uma garota negra quer ser paquita. Pode não parecer um dilema muito grande, se nem todas as paquitas fossem brancas. Por isso, a menina – apesar de se vestir e se portar como uma – não consegue se reconhecer como parte desse universo. Mais um retrato interessante da situação de exclusão dos negros dos espaços de discussão na cultura. Veja na íntegra.
http://portacurtas.org.br/filme/?name=cores_e_botas


http://revistaescola.abril.com.br/consciencia-negra/africa-brasil/identidade-negra.shtml#filmes
Transporte público em grandes cidades

Objetivo(s)
Conhecer as contradições do ambiente urbano
Entender a importância dos transportes públicos nas grandes cidades 
Refletir sobre a relação entre a paisagem urbana e a formulação de políticas pública
Reconhecer as diferenças e as transformações que determinaram as várias formas de uso e apropriação do espaço urbano 

Conteúdo(s)
Lugares de vivência e cidadania
Mobilidade urbana e fluxos materiais
As cidades globais e o direito à cidade


Ano(s)                                                    1º                    2º                    3º

Tempo estimado                               5 aulas
Material necessário
Cópia do mapa da rede de transporte da cidade
Projetor de imagem para os trabalhos dos estudantes e par que todos assistam ao documentário "Cidades - da aldeia à megalópole", de Nancy LeBrun (https://www.youtube.com/watch?v=9nKDbS_dvBo )
Computadores com acesso à internet ou biblioteca para as pesquisas

Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
A mobilidade urbana é um das questões mais críticas das grandes cidades. No Brasil, o ponto é preocupante, uma vez que os serviços públicos mostram-se escassos, precários e mal dimensionados. As contradições ficam evidentes quando observamos com mais atenção o impulso, o incentivo e o investimento econômico e tecnológico que fomentam o modelo de transporte automotivo individualizado. Na contramão, os espaços para circulação de pessoas e para o transporte público é reduzido. Fica claro, inclusive no comportamento das pessoas no trânsito, o predomínio abusivo do transporte privado e individual, mesmo que sua preponderância não seja saudável nem para as cidades nem para os pulmões de seus habitantes.
Para entender as relações complexas que envolvem a rede de transporte, é preciso ressaltar conhecimentos prévios, problematizar o tema no contexto global-local e, sobretudo, conhecer e refletir sobre lugares de vivencia. 
Inicie conversando com seus alunos. Lembre que a maioria da população mundial e do Brasil vive nos centros urbanos. Destaque os principais aspectos que levaram à concentração populacional nas cidades e como os processos urbanos, sobretudo no Brasil, estabeleceram relações de contradições socioeconômicas e degradação ambiental. Essa premissa estabelecerá fundamentos para abordagem de três eixos centrais no plano de aula: mobilidade urbana, transporte público e direito à cidade. 
Em seguida, encaminhe a leitura das duas reportagem publicadas em VEJA. Explique que os adolescentes devem destacar nos textos aspectos que ilustrem os conteúdos de Geografia. Por exemplo: modo de vida urbano, inversão da proporção na concentração da população rural em população urbana, competitividade do mercado capitalista na era da revolução técnico-científica e informacional, os problemas de acessibilidade e qualidade de vida nas grandes cidades etc. Peça que os alunos troquem suas observações. 
Solicite, para a próxima aula, que os alunos observem com um olhar atento o sistema de transporte que usam no cotidiano. Peça para que eles tragam mapas e guias do sistema de transporte público da cidade.

2ª etapa

Traga os três eixos (mobilidade urbana, transporte público e direito à cidade) para discussão entre os alunos e incentive que eles observem os transportes que usam e o espaço ao redor. A ideia é criar um repertório de questões-problemas e reflexões.
Nessa fase do plano de aula, a fonte de informação primordial é a percepção dos alunos. Observe quais aspectos emergem nos diálogos, e destaque questões como:
·         Qual é o meio de transporte mais utilizado no cotidiano?
·         Quais são as condições de acesso?
·         Quais são as condições dos transportes? Eles estão em bom estado de conservação ou precisam de manutenção/troca? São seguros?
·         Como é a circulação desse transporte?
·         Quanto tempo é gasto entre o ir e vir?
·         Quanto custa para percorrer o trajeto cotidiano?
Esse momento da problematização e reflexão são essenciais, pois contribui para construção de argumentos necessários à formação cidadã. Conforme o aluno questiona sua própria realidade, busca mais conhecimento e cresce o desejo de participação nas decisões de interesse público e coletivo. A cidadania, portanto, é um processo continuo, marcado pela valorização do sujeito diante do mundo e do lugar onde ele vive.

3ª etapa
Distribua cópias do texto "Mobilidade urbana, sustentabilidade, direito a cidade, participação popular e processos democráticos", disponível neste link.  (http://www.confea.org.br/media/confea_mobilidade_urbana_miolo.pdf )
Oriente a leitura do sumário, onde estão elencados os principais pontos a serem discutidos no texto. Nesse momento, é importante que o professor tenha selecionado anteriormente alguns trechos para conversar com seus alunos sobre os seguintes temas: mobilidade urbana, sustentabilidade, direito a cidade, participação popular e processos democráticos.
Se houver projetor de imagens disponível em sua escola, você pode utilizá-lo neste momento. Esse material contém gráficos e imagens interessantes, vale apresentá-los durante sua explicação para estimular o interesse dos alunos na leitura integral do texto. 
Nesta etapa, os alunos estarão pensando no contexto onde vivem. Agora é o momento de conhecerem outras realidades. Mostre que alguns problemas são universais. Para tanto, separe um momento da aula para exibir o documentário "Cidades - de aldeia à megalópole". A exposição tem a intenção de contribuir para uma análise comparativa entre grandes cidades globais e o sistema de transporte urbano. O aluno deverá perceber que em um panorama geral os processos de urbanização são semelhantes, indicam contradições que geram desigualdades e impactos socioambientais. Contudo não são idênticos, o que explicita o quanto é importante a leitura do lugar para encontrar soluções em escala local. Após o filme, inicie um breve debate com a turma problematizando essas questões e ouvindo as opiniões que surgirem.
As reportagens de VEJA lidas no começo da sequência podem ser recuperadas neste momento, já que apresentam o que cidades em vários países do mundo fizeram para melhorar seus sistemas de transporte. 

4ª etapa
Convide a turma a buscar diferenças ou semelhanças entre os exemplos vistos e o município onde vivem. Disponibilize o mapa da cidade e divida a turma em grupos. Permita que os alunos escolham o formato de apresentação dos trabalhos, favorecendo a criatividade e a autonomia. 
Cada um deverá usar o conteúdo estudado para propor soluções para a cidade onde fica a escola. Oriente os alunos a pensar primeiro nos temas que foram discutidos durante a aula, e que tem a ver com as realidades de outros países. Depois, incite-os a pensar nos problemas locais e a identificar outros lugares onde tais problemas também ocorrem. Para isso, eles podem usar o laboratório de informática, a biblioteca ou quaisquer outras fontes de pesquisa. No final, os grupos precisam apresentar propostas concretas de possíveis intervenções urbanas ou de políticas públicas que poderiam ser formuladas para resolver os conflitos vigentes.
Durante a apresentação, conduza a análise coletiva das ideias e formule um quadro com as sugestões da turma. 
Explique para os alunos que esse conjunto de propostas levantadas por eles pode ser encaminhado para a Câmara dos Vereadores. Veja o que eles acham da ideia. Conforme as respostas, organize um encaminhamento para o Poder Legislativo Municipal. 

Avaliação
Use as discussões em sala, as pesquisas e a proposta final para avaliar os estudantes. Observe se cada um entende seu papel como protagonista do espaço geográfico e momento histórico onde se insere. Essa relação é desencadeadora de processos de cidadania, autonomia e liberdade de expressão.
Analise se, ao final, os adolescentes se sentiram efetivamente motivados a assumir uma leitura mais responsável de seus processos de vivências, observando em especial a questão da mobilidade urbana e justiça social. 


http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/transporte-publico-em-grandes-cidades
Coronelismo: os segredos por trás da enxada e do voto

Objetivo(s)
Conhecer e refletir sobre os chamados "coronéis" do nordeste e seu poder político no início do século 20.

Conteúdo(s)
História do Brasil
Primeira República
Coronelismo

Ano(s)                              1º                 2º                3º

Tempo estimado            1 aula

Material necessário

·        Cópias do artigo “Bolsa Família: voto racional, e não de cabresto” (Veja 2401, 26 de novembro de 2014) (http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx?edicao=2401&pg=24 )
·        Cópias da reportagem "Parada no Tempo"  (Veja, 2317, 17 de abril de 2013) (http://veja.abril.com.br/acervodigital/ )
·        Trecho do livro "Coronelismo, Enxada e Voto" de Victor Nunes Leal. (P. 43-44)
·        Trecho do filme "Gabriela, Cravo e Canela" (Bruno Barreto, 1983). De 55:29min a 1:00:28s. Disponível no You Tube . (https://www.youtube.com/watch?v=3pK1YBAQpmY )

Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
O Brasil vive em regime de República desde 1889. Periodicamente, vamos às urnas escolher nossos representantes nos poderes Executivo e Legislativo. No início da implantação desse sistema de votos, quando a escolha dos candidatos era feita de maneira aberta, os coronéis regionais tinham papel fundamental no resultado das eleições. Ganhava o político que tinha mais amigos poderosos, que pressionavam seus currais eleitorais a votarem no candidato indicado por eles.
Atualmente, muito se discute sobre os programas de governo que criam uma rede de eleitores fiéis e dependentes, comparando-os com os votos de cabresto da República Velha.
No artigo “Bolsa Família: voto racional, e não de cabresto” (Veja 2401, 26 de novembro de 2014), o colunista Maílson da Nóbrega não considera que os beneficiários do Bolsa Família têm uma relação de cabresto com o atual governo, e explica por que. Leia o artigo e reflita com sua turma sobre o período do Coronelismo na história do Brasil com o plano de aula a seguir.

Atividades
1ª etapa

Inicie esta etapa de trabalho comentando com os alunos que o termo "Coronelismo" é muito recorrente na história da república brasileira e na política. Pergunte à turma qual é o significado da expressão e anote as respostas no quadro.
Explique aos alunos que o termo "Coronelismo" remete a um momento anterior à República. Quando Dom Pedro I deixou o reinado, em 1831, foi criada a Guarda Nacional, criando um coronelismo institucional. Na ocasião, as patentes militares foram colocadas à venda pelo governo regencial que comandou o Brasil até 1842. Os homens mais ricos, grandes proprietários de terra, em geral, puderam comprar títulos de tenente, capitão, major, tenente-coronel e de coronel da Guarda Nacional, que era o mais importante de todos.

Apesar da origem do termo ainda no per
íodo imperial, foi na República que ele ganhou mais representatividade no cotidiano do povo brasileiro e passou a conceder poderes maiores ao portador do título. Os coronéis da Primeira República eram grandes latifundiários e, eventualmente, comerciantes enriquecidos, que gozavam de grande poder e de muitos privilégios sobre a população brasileira. O grande diferencial do poder dos coronéis era a capacidade de determinar em quem os eleitores votariam. A expressão "voto de cabresto" é relativa a esse período da história do Brasil, pois o voto não era secreto e os jagunços dos coronéis utilizavam de punição física caso algum eleitor se manifestasse contra os interesses do mandatário local. Verifique se os alunos conhecem histórias similares nos dias atuais e incentive que eles façam o relato.

2ª etapa
Após introduzir o conceito de "Coronelismo" e de identificar seu momento histórico de maior influência, leia com a turma a passagem a seguir do clássico livro de Victor Nunes Leal chamado "Coronelismo, Enxada e Voto", disponível na internet, como auxílio para explorar outros elementos.

Coronelismo, Enxada e Voto
O fenômeno de imediata observação para quem procure conhecer a vida política no interior do Brasil é o malsinado "coronelismo". Não é um fenômeno simples, pois envolve um complexo de características da política municipal [...]. Como indicação introdutória, devemos notar, desde logo, que concebemos o "coronelismo" como resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada.
Não é, pois, mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constitui fenômeno típico de nossa história colonial. É antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.
Por isso mesmo, o ¿coronelismo¿ é, sobretudo, um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois, compreender o fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece base de sustentação das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil.
Paradoxalmente, entretanto, esses remanescentes de privatismo são alimentados pelo poder público, e isso se explica justamente em função do regime representativo, com sufrágio amplo pois o governo não pode prescindir do eleitorado rural, cuja situação de dependência ainda é incontestável. Desse compromisso fundamental resultam as características secundárias do sistema coronelista, como sejam, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços públicos locais." Victor Nunes Leal (P. 43-44)
Antes de orientar a discussão, pergunte à turma o que foi entendido com o texto e estimule um debate com fins de definição do coronelismo. Explique alguns pontos que são importantes para compreensão do fenômeno. O coronelismo é uma manifestação diferenciada do poder privado em meio a um regime político de base representativa.
A ligação com o poder público foi feita através de um compromisso que estabeleceu trocas de favores. A força dos coronéis prestava grande favor ao presidente, preparando seu sucessor, e aos deputados, fornecendo-lhes votos e a permanência no poder político. Ou seja, uma completa interferência e manipulação dos votos, já que os coronéis obrigavam a população a votar nos candidatos que escolhiam.
O poder do coronel estava muito relacionado à distribuição populacional em regiões rurais do território brasileiro. Nesse contexto, o coronel era uma figura local de grande influência sobre os moradores de cidades menores, de regiões mais afastadas e de suas imediações. Os coronéis dominavam funções como de policiamento e de justiça que deveriam ser de autoridade do Estado nessas regiões. Submetendo, inclusive, delegados, juízes e prefeitos. Quanto mais terra possuísse, maior era seu poder, pois mais pessoas dependiam dele.

3ª etapa
Nesta etapa, após verificar o que os alunos apreenderam sobre o conceito de "Coronelismo", utilize a obra de Jorge Amado para ilustrar o tema em uma aula expositiva.
É importante que o professor saiba que com a transferência da capital brasileira para a cidade do Rio de Janeiro e em função do crescimento econômico do sudeste em torno do café, o nordeste do país, que já era predominantemente rural, assumiu, mais ainda, esta característica de domínio dos coronéis. Esses tipos estavam espalhados pelos municípios nordestinos, mas nem todos eram amigos ou tinham o mesmo poder. Inclusive, havia muita disputa pelo poder. O coronel mais poderoso e violento se impunha. Assim, estabelecia alianças com outros fazendeiros e decidia pelo candidato que queria para governador do estado.

O famoso escritor baiano Jorge Amado retratou o cen
ário nordestino dominado por coronéis em seus romances, demonstrando o poder e a disputa constante que acontecia entre os grandes proprietários de terra. Exiba em sala o trecho indicado do filme "Gabriela, Cravo e Canela" de 1983. 
Procure mostrar a cena que retrata a disputa política entre coronéis e o uso da violência expressada através de seus jagunços. Tais características eram recorrentes no nordeste. O poder econômico dos coronéis, expresso através de suas propriedades rurais, refletia em poderes políticos muito maiores.
A união desses dois elementos fez com que coronéis permanecessem no comando de regiões rurais por muito tempo, gerando famílias influentes na política nordestina. O cenário só mudou com a dinamização da economia e a progressiva urbanização de certas regiões, situações que criaram postos de trabalho desvinculados da terra e do poder dos coronéis. Ainda assim, muito embora o poderio extremo dos coronéis no início do século XX tenha caído, algumas famílias de grandes proprietários de terras são predominantes na política nordestina e ainda desfrutam de certos privilégios e poder. Para ilustrar essa explicação solicite que os alunos leiam a reportagem "Parada no Tempo" de Veja. Em seguida, exiba o vídeo "Cultura Retrô - Coronelismo" de 5 minutos dísponivel no You Tube. O vídeo  faz uma síntese do assunto e o liga aos dias atuais.

Avaliação
Após acrescentar os dois vídeos à explicação, peça à turma que faça uma dissertação explicando o que é o coronelismo, quem eram os coronéis, a origem do poder deles e o reflexo do poder econômico no poder político. Solicite que o texto faça uma correlação do poder dos proprietários de terra no nordeste no início da República com os dias atuais e utilize pelo menos uma das fontes usada em sala de aula e outra fonte livre confiável que o aluno deve pesquisar na internet. Verifique por meio da dissertação e da participação nas aulas se a turma compreendeu o termo coronelismo e a ligação entre propriedades rurais com poder político no debate realizado sobre o texto de Victor Nunes Leal.



http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/coronelismo-os-segredos-por-tras-da-enxada-e-do-voto