terça-feira, 16 de abril de 2013


Por que negamos o envelhecimento?

Debata com os alunos os motivos de a sociedade negar o envelhecimento por meio de cirurgias, tratamentos estéticos e até hormonais
Objetivos 
Ø  Aprender conceitos sobre tempo e mudança
Ø  Entender de que maneira a noção de tempo e as mudanças comportamentais guiam nossas interpretações sobre o envelhecimento 
Ø  Perceber a maneira como nossa sociedade se relaciona com o envelhecimento 

Conteúdos
Ø  Tempo, mudança e corpo 
Ø  Como nossa época entende os efeitos do tempo sobre o corpo

Tempo estimado                  Duas aulas

Materiais necessários
Ø  Cópias para todos os alunos da entrevista 'Vocês estão dez anos atrás de nós', diz médico americano"(disponível no site de Veja) ou um projetor de imagens

Anos                                      Ensino Médio

Introdução
Todos nós sofremos as ações do tempo que se mostram não só em nossos corpos, onde são mais visíveis, mas também em nosso espírito. Com o passar do tempo, nossas atitudes e comportamentos sofrem alterações. Sempre pensamos na relação entre juventude e velhice de forma ambígua, contrapondo os valores atribuídos a cada uma dessas fases. E, a cada momento, de modo aparentemente inconstante, enaltecemos mais ou menos algum aspecto relativo a uma dessas fases - ora enaltecemos a energia da juventude frente ao cansaço do corpo idoso, ora valorizamos a experiência dos mais vividos frente à inconstância e imprudência juvenil.
Além disso, quando se trata de nosso corpo, nossa sociedade valoriza os aspectos que caracterizam um corpo jovem. Utilize a entrevista com o médico americano Jeffry Life, publicado no site de Veja (disponível aqui), para problematizar com os alunos questões envolvidas no tratamento que damos à noção de envelhecimento.

AQUI TEM MAIS

Desenvolvimento
1° etapa
Inicie a primeira etapa dizendo para a turma que a maneira como é compreendida a relação entre tempo e mudança assume aspectos distintos em cada época e em cada contexto social. A passagem do tempo traz mudanças ao corpo do sujeito. É preciso que ele resignifique a imagem que ele faz de si mesmo. E esse novo parâmetro ainda está atrelado ao horizonte da morte, fim certo de toda pessoa e que se aproxima cada vez mais com o passar do tempo.
Diga aos alunos que, nesse sentido, a psicanálise no século 20 traz importantes elementos para pensar essas relações. A idade avançada é um momento em que, além da proximidade com a morte, também apresenta a perda de elementos significativos para a vida, por exemplo, a perda de entes queridos, perda do trabalho, entre outras coisas. Além disso, há um papel fundamental da estrutura temporal na dinâmica do desejo. Diante da situação presente, o sujeito busca motivações em seu passado no intuito de atingir um determinado objeto futuro. No entanto, a proximidade da morte que o envelhecimento traz limita as perspectivas do tempo futuro. Isso traz mudanças à estrutura de desejo do sujeito em várias dimensões.
Após essas considerações gerais, distribua aos alunos cópias da entrevista do médico americano Jeffry Life àVeja (disponível aqui) e peça a eles que leiam em casa o texto.

2ª etapa 
Comece a próxima etapa escrevendo na lousa ou lendo em voz alta a pequena passagem de um poema do poeta grego Teógnis: 
"Choremos a juventude e a velhice também,
Pois a primeira foge e a segunda sempre vem" 
Solicite aos alunos que reflitam por um instante sobre as palavras do poeta grego e estabeleça um tempo para isso. Em seguida, peça à turma que exponha, de maneira curta e objetiva, suas opiniões sobre o trecho oferecido.
A partir das respostas dos alunos, mostre a eles que o tempo e a mudança são questões fundamentais ao longo de toda a história da Filosofia, e que cada época assumiu uma atitude distinta em relação a elas.
Por exemplo, as palavras do poeta Teógnis valorizam a juventude frente à velhice, e a chegada dessa é algo a se lamentar. Há nisso dois aspectos relevantes. O primeiro deles é o de um ideal de beleza que remonta à juventude; o corpo belo e saudável é aquele que ainda não foi consumido pelo tempo. Atrelado a isso, há a própria maneira como os gregos entendiam a relação entre mudança e permanência. Se para Heráclito a realidade é puro movimento e mudança, havendo uma harmonia escondida por trás da contínua mudança entre os contrários, para Parmênides o ser é aquilo que é idêntico a si mesmo e imutável, sendo a mudança uma ilusão que nos afasta daquilo que de fato o ser é, que nos afasta do caminho da verdade. Essa posição de Parmênides obteve maior fortuna ao longo da história ocidental, principalmente por meio de sua apropriação por Platão. Este afirmava que o ser é imóvel e idêntico a si mesmo, e que o que observamos como mudança é um mundo sensível que é cópia daquilo que o ser é - e, por ser assim uma cópia, possui menos realidade do que o ser, o qual é acessível apenas pela alma.
Por isso, é preciso encontrar em meio à multiplicidade das coisas sensíveis aquilo de que essas coisas participam e faz com que elas sejam tal como são: não são as coisas belas que definem o belo, mas é preciso encontrar o belo, inteligível, imóvel e eterno que dá a beleza às coisas belas. Já aqui temos uma perspectiva para a qual aquilo que tem mais realidade escapa à mudança temporal.
Informe a turma que essa perspectiva também influencia o pensamento cristão, para o qual o tempo é a marca da corrupção do ser criado. Deus, criador do mundo, é eterno não porque dura todo o tempo, mas porque está fora da ordem do tempo, sendo esse o percurso de geração e fenecimento daquilo que é criado. 

3ª etapa 
Inicie a última etapa esclarecendo as dúvidas que os alunos trouxeram de casa após a leitura do texto. Depois, explique aos alunos que o texto revela uma atitude característica de nossas sociedades em relação ao envelhecimento. Tempos atrás, em outras sociedades, a figura do idoso representava a sabedoria e a fonte dos valores que pautariam a sociedade. Mas, as mudanças acontecidas em nossa sociedade após a revolução social fez com que o valor que os indivíduos têm seja atrelado ao que eles produzem, pondo assim em segundo plano a herança dos valores de outras gerações.
Em contrapartida, o número de indivíduos idosos aumenta cada vez mais em nossas sociedades. Esse fato leva a uma demanda de reconhecimentos de direitos desses cidadãos, como nas lutas por um sistema previdenciário justo e eficiente que garanta uma aposentadoria apropriada para aqueles que trabalharam a vida toda.
Parte da luta pelo reconhecimento da dignidade dos idosos é pela própria dignidade, muitas vezes posta em segundo plano por não serem essas pessoas tão produtivas quanto os indivíduos mais jovens.
Tudo isso põe nossa sociedade em um nó muito complexo. De um lado, a necessidade do reconhecimento dos direitos e das dignidades dos idosos. Em contrapartida, a sobrevalorização de todos os aspectos da juventude, principalmente aqueles ligados ao corpo. A beleza é um atributo de um corpo jovem - e não de qualquer corpo, mas um que atenda às necessidades impostas por um certo padrão de corpo -, e envelhecerá melhor quem puder manter esse corpo juvenil por mais tempo. A contradição aí é afirmar que envelhecerá melhor quem apresentar menos aspectos do envelhecimento.
A entrevista com o médico Jeffry Life apresenta ainda um aspecto muito importante e revelador de nossa época. Ele afirma que não se trata de recusar o envelhecimento, mas de fazer um "gerenciamento do envelhecimento".
Em uma sociedade administrada, que sobrevaloriza o controle e o planejamento sobre todos aspectos da vida humana - como se tudo devesse estar sempre submetido a um cálculo para se obter o maior controle e eficiência, assim como se faz ao cuidar de uma empresa -, é sintomático que os aspectos relativos à saúde do indivíduo e à significação que isso tenha para ele sejam encarados do mesmo modo. Em uma sociedade pautada pelo valor e na qual a aparência, especialmente física, é um valor fundamental, encontramos diversas ofertas de tratamentos médicos e programas de exercícios para combater os efeitos da passagem do tempo - principalmente para manter a aparência de um corpo juvenil - sem ao menos nos perguntarmos, por exemplo, de onde vêm esses ideais, o que os sustentam, e se o questionamento deles, em vez de sua reprodução mecânica, poderia possibilitar uma melhor compreensão da especificidade de cada indivíduo em nossa sociedade.
Peça aos alunos que elaborem em casa uma dissertação sobre o tema "Como nossa sociedade se relaciona com o envelhecimento?", na qual eles devem discutir o tema a partir do material oferecido para leitura e do que foi apresentado e debatido em sala de aula, além de incluir seus pontos de vista sobre a questão, lembrando que eles devem argumentar sobre seus pontos de vista com base no conteúdo lido e discutido.

Avaliação
A avaliação deve ser feita pela consideração da participação dos alunos nos debates em sala de aula e pela análise da dissertação por eles elaborada. Nessa análise, considere como eles entenderam a relação entre tempo e mudança, e a significação disso quanto ao corpo do indivíduo. Considere também como eles relacionam isso com a maneira que nossa época se relaciona com o envelhecimento e como eles argumentam seus próprios pontos de vista a partir das questões tratadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário