Patriotismo e nacionalismo
Discuta com a turma os
conceitos de nacionalismo e patriotismo, comparando suas manifestações pelo
mundo
Objetivos
Identificar versões
extremadas de sentimentos como patriotismo e nacionalismo
Conteúdos
Patriotismo, nacionalismo,
cidadania
Tempo estimado Duas aulas
Introdução
O artigo Patrulha
Labial, de Roberto Pompeu de Toledo, trata, entre outros aspectos, da diferença
de opiniões de autoridades francesas sobre a suposta resistência de jogadores
da seleção de futebol a cantar a Marselhesa - o hino nacional do
país. A ministra francesa dos Esportes considera que os jogadores deveriam
fazê-lo; já a vice-ministra, negra, nascida no Senegal, afirma que exigir isso
"seria uma espécie de ditadura". Será que depois do famigerado
"Brasil: ame-o ou deixe-o", temos agora "Marselhesa: cante-a ou
deixe a seleção"?
Em outro contexto, o artigo O
novo país do futebol trata da expressão do nacionalismo que ressurge na
Alemanha, em um contexto de potência econômica europeia e de seleção campeã da
Copa do Mundo. Não é o mesmo caso do III Reich, que levou à eclosão da Segunda
Guerra Mundial. Hoje, o pensamento é de coletividade e receptividade ao
multiculturalismo. Use os textos como base para examinar com seus alunos
sentimentos como nacionalismo e patriotismo, cujos excessos colocam em xeque a
unidade nacional.
Desenvolvimento
1ª aula
Solicite que os estudantes
pesquisem em dicionários e livros o significado dos termos "patriotismo" e"nacionalismo".
Eles vão constatar que patriotismo é o sentimento daquele que ama a pátria ou a
ela presta serviços. Já o vocábulo nacionalismo tem várias acepções:
1.
Salvaguarda dos
interesses e exaltação dos valores nacionais;
2.
Sentimento de
pertencer a um grupo por vínculos raciais, linguísticos e históricos, que
reivindica o direito de formar uma nação autônoma;
3.
Ideologia que
enaltece o estado nacional como forma ideal de organização política, com suas
exigências absolutas de lealdade por parte dos cidadãos.
Forneça, a seguir, algumas
informações sobre manifestações extremas desses sentimentos, tais como o chauvinismo,
o jingoísmo e o ufanismo.
Ø
Chauvinismo - é definido nos dicionários como "patriotismo fanático, cego, agressivo". A palavra deriva do nome de Nicolas Chauvin, veterano aposentado que permaneceu fanaticamente devoto a Napoleão depois da derrota do imperador em Waterloo, em 1815. A figura do velho militar deu origem a um personagem ridicularizado em peças como La Cocarde Tricolore, dos irmãos Charles-Théodore e Jean-Hippolyte Cogniard.
Jingoísmo - versão britânica do chauvinismo, ainda mais arrogante e agressiva. Felizmente, os próprios britânicos criaram um antídoto para o jingoísmo, nas palavras mordazes do escritor Samuel Johnson: "O patriotismo é o último refúgio de um canalha".
Ufanismo - segundo os dicionários, trata-se do "orgulho exacerbado pelo país em que nasceu; patriotismo excessivo". O termo remete ao livro Por que me ufano de meu país, do conde Afonso Celso, publicado em 1900. Elencando itens da superioridade do Brasil como a grandeza territorial, a beleza e o "procedimento cavalheiroso" e digno para com os outros povos, o autor faz afirmações questionáveis como: "Negros, brancos, peles-vermelhas, mestiços, vivem aqui em abundância e paz". Outras são francamente absurdas, como "Feridas e amputações cicatrizam mais depressa do que nos hospitais do Velho Mundo". Ou ainda, "No Amazonas (...) as onças (...) são inofensivas. Serpentes gigantescas guardam as cabanas".
Chauvinismo - é definido nos dicionários como "patriotismo fanático, cego, agressivo". A palavra deriva do nome de Nicolas Chauvin, veterano aposentado que permaneceu fanaticamente devoto a Napoleão depois da derrota do imperador em Waterloo, em 1815. A figura do velho militar deu origem a um personagem ridicularizado em peças como La Cocarde Tricolore, dos irmãos Charles-Théodore e Jean-Hippolyte Cogniard.
Jingoísmo - versão britânica do chauvinismo, ainda mais arrogante e agressiva. Felizmente, os próprios britânicos criaram um antídoto para o jingoísmo, nas palavras mordazes do escritor Samuel Johnson: "O patriotismo é o último refúgio de um canalha".
Ufanismo - segundo os dicionários, trata-se do "orgulho exacerbado pelo país em que nasceu; patriotismo excessivo". O termo remete ao livro Por que me ufano de meu país, do conde Afonso Celso, publicado em 1900. Elencando itens da superioridade do Brasil como a grandeza territorial, a beleza e o "procedimento cavalheiroso" e digno para com os outros povos, o autor faz afirmações questionáveis como: "Negros, brancos, peles-vermelhas, mestiços, vivem aqui em abundância e paz". Outras são francamente absurdas, como "Feridas e amputações cicatrizam mais depressa do que nos hospitais do Velho Mundo". Ou ainda, "No Amazonas (...) as onças (...) são inofensivas. Serpentes gigantescas guardam as cabanas".
Chame a atenção para um
outro conceito de pátria, dinâmico, livre dos exageros chauvinistas ou
ufanistas. Ele pode ser expresso nas palavras do poeta Fernando Pessoa em Minha
pátria é a língua portuguesa.
"Não tenho sentimento
nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento
patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem
ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio,
com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal
português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia
simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada,
como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro direto que
me enoja independentemente de quem o cuspisse" (Fernando Pessoa, Livro
do Desassossego)
Peça que os alunos leiam o
artigo de Roberto Pompeu de Toledo, publicado em VEJA, que menciona os
"times multicoloridos" da Europa que disputaram a Copa do Mundo da
África do Sul. Leiam juntos também o artigo de Tatiana Gianini, O Novo País do
Futebol, e identifique com os alunos os trechos que mostram como a Alemanha
adotou como caminho uma receptividade maior aos imigrantes e mudou seu olhar
para o multiculturalismo. Como os jovens explicam esse fenômeno? Provavelmente
alguns responderão que, nas últimas décadas, países como a França e a Alemanha
passaram a receber imigrantes, que hoje estão presentes nas equipes esportivas.
Lembre que isso também ocorreu, no final do século 19 e início do século 20, em
países como a Argentina, o Uruguai e o Brasil - que, bem ou mal, conseguiram
superar preconceitos de todo tipo e forjar equipes nacionais.
Explique à turma que, entre
estes preconceitos, estava o racismo. Para se ter uma ideia, em 1924, o Vasco
da Gama impediu que os grandes clubes cariocas afastassem os jogadores pobres -
em sua grande maioria, negros e mulatos -, sob a alegação de que
"praticavam o profissionalismo". Questione os alunos se essa fusão de
etnias também ocorre na Europa. A construção da nacionalidade teve mais êxito
nos países americanos de imigração ou no Velho Mundo, onde surgiu justamente o
conceito de Estado Nacional?
Encarregue os estudantes de
investigar o processo de construção do Estado Nacional em países como a França
e a Espanha. Será possível verificar que, muito antes da chegada dos
imigrantes, um grupo étnico dominante conseguiu incorporar, num só corpo
político, outras etnias. No caso francês, foram conquistados territórios
meridionais de idioma provençal como a Bretanha e, já no século 17, a Alsácia e
a Lorena, onde se falavam línguas germânicas. O núcleo castelhano da Península
Ibérica, por sua vez, conseguiu dominar as regiões bascas e a Catalunha - todas
elas dotadas de língua e cultura próprias, bem como a Andaluzia, de forte
presença moura. Durante as comemorações da vitória espanhola na Copa do Mundo
de 2010, atletas catalães erguiam a bandeira de sua pátria - a Catalunha, não a
Espanha -, enquanto outros empunhavam pavilhões bascos e da Andaluzia. É uma
evidência de que existem realidades étnicas que reivindicam, se não a
independência plena, pelo menos maior autonomia no âmbito do Estado Nacional
Espanhol.
Estabeleça alguns tópicos
para pesquisa e debate. Foi apenas a força que conservou unidas essas
diferentes etnias, ou o grupo dominante ofereceu a participação em um projeto
"nacional" que lhe assegurou a hegemonia? Na França, esse projeto foi
marcado pela Revolução de 1789, que forjou uma nova unidade na República com
base na afirmação dos direitos de cidadania. As palavras da vice-ministra dos
Esportes podem ser vistas como uma reafirmação desses direitos?
Ressalte o potencial
unificador do processo revolucionário francês: a Marselhesa foi
composta em 1792 na Alsácia, com o título de Canto de Guerra para o
Exército do Reno, ou seja, em um território que só passou a fazer parte da
França no reinado de Luís 14. Será que na atualidade existe um projeto nacional
capaz de unir, segundo Roberto Pompeu de Toledo, "uma seleção dividida em
facções em que tiveram peso a origem, a cor da pele e a religião"? A
julgar pelos atentados racistas contra a seleção francesa, exigindo uma equipe
"branca e cristã", as perspectivas não parecem muito promissoras - e
ainda menos no tocante à incorporação das famílias de imigrantes à nação
francesa.
2ª aula
Peça que a moçada relacione
as passagens a seguir aos conceitos de chauvinismo, ufanismo, jingoísmo,
patriotismo "ortodoxo", patriotismo "dinâmico" e
nacionalismo, apresentados na aula anterior.
1.
"Eu também já
fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam."
(Carlos Drummond de Andrade, Também já fui brasileiro. Do livro Alguma poesia)
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam."
(Carlos Drummond de Andrade, Também já fui brasileiro. Do livro Alguma poesia)
2.
"My country, right
or wrong" (Certo ou errado, o meu país").
3.
"A língua é
minha Pátria / E eu não tenho Pátria: tenho mátria / Eu quero frátria" (Caetano
Veloso, Língua)
4.
"Brasil, ame-o
ou deixe-o"
Propaganda governamental do governo Médici (1969-1974)
Propaganda governamental do governo Médici (1969-1974)
5.
"A seleção é a
pátria em chuteiras"
Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues
6.
"Fui e fiz meu
trabalho. Tiraram sarro, disseram que eu fui patriota. Hoje os jogadores são
patriotas, resgataram o orgulho e o respeito pela camisa, o moral"
Dunga, ex-técnico da seleção brasileira de futebol, em entrevista realizada em 9 de julho de 2010.
Dunga, ex-técnico da seleção brasileira de futebol, em entrevista realizada em 9 de julho de 2010.
7.
"Que a vossa
geração exceda a minha e as precedentes, senão em semelhante amor, ao menos nas
ocasiões de o comprovar. Quando disserdes: ‘Somos brasileiros!’ levantai a
cabeça, transbordantes de nobre ufania. Convencei-vos de que deveis agradecer
quotidianamente a Deus o haver Ele vos outorgado por berço o Brasil".
(Afonso Celso, Por que me ufano de meu país)
(Afonso Celso, Por que me ufano de meu país)
Aproveite as citações para discutir com a turma as noções de patriotismo. Questione os alunos sobre o que é o mais indicado: que um treinador de futebol monte uma seleção de patriotas ou uma boa equipe? A camisa da seleção canarinho é um dos símbolos da pátria, ao lado das chuteiras presentes nas crônicas de Nelson Rodrigues? Dunga investia contra a "imprensa impatriótica", assim como a direita francesa atacava os jogadores negros e muçulmanos. Será que nos dois casos não são justificativas para a montagem de equipes que exibiram um futebol inferior ao esperado? Promova um debate com a turma e, ao final, peça para que todos escrevam textos dissertativos a respeito.
Avaliação
No decorrer dos debates, a
classe deve perceber que o patriotismo não pode ser imposto. Quanto à atividade
da segunda aula, espera-se a identificação dos seguintes conceitos, pela ordem
em que os textos e frases aparecem neste plano de aula: nacionalismo,
jingoísmo, patriotismo "dinâmico", chauvinismo, patriotismo
"ortodoxo" (Nelson Rodrigues e Dunga) e ufanismo. Os textos
produzidos pelos estudantes também servem como base para esta avaliação.
Consultoria Carlos Eduardo Matos
Jornalista e editor de livros didáticos e paradidáticos.
Jornalista e editor de livros didáticos e paradidáticos.
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/patriotismo-nacionalismo-577927.shtml
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