sexta-feira, 11 de julho de 2014

Como falar sobre aborto com os alunos?

Ao ser questionado sobre aborto, o educador deve procurar descobrir qual é a real motivação da pergunta
Há algum tempo, uma professora me contou que uma vez havia sido questionada por uma aluna sobre sua opinião em relação ao aborto. No momento ela desconversou, mas depois, preocupada, me procurou para saber como proceder.
Uma pergunta como essa dificilmente ocorre fora de contexto, apenas por curiosidade. Por isso, é muito importante acolher a aluna e buscar descobrir a verdadeira intenção da pergunta. Às vezes, pode haver um problema por trás dessa curiosidade aparentemente despretensiosa, como a gravidez da garota ou de uma amiga que ela esteja tentando ajudar.
Por isso, a orientei a perguntar para a garota “por quê” ela queria ouvir sua opinião. Dessa forma, é possível se aproximar da verdadeira intenção da pergunta e perceber que a resposta mais adequada, não é a posição pessoal sobre o aborto, mas sim, fornecer informações que mostrem os prós e os contras sobre o tema.
Aborto é um assunto extremamente polêmico e cheio de armadilhas. A legislação brasileira o permite somente em casos de estupro, de gravidez com risco à vida da mãe ou se o feto for anencefálico (uma má-formação rara do tubo neural caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da calota craniana). Em qualquer outra circunstância, a interrupção da gravidez é proibida no país. Mas não podemos fingir que isso não acontece.
Cálculos do Ministério da Saúde revelam que 3,7 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos induziram aborto – 7,2% do total de mulheres em idade reprodutiva.  Isso faz do aborto a quarta maior causa de óbito materno no país, vitimando 9,4 de cada 100 mil gestantes, especialmente as de menor poder econômico.
As mulheres decidem interromper a gravidez hoje, decidiram ontem e vão decidir sempre. Mesmo que o custo dessa decisão traga risco de morte. E isso é sério! Contudo, ainda estamos longe de uma solução definitiva para essa questão. Enquanto para os favoráveis à proposta, o aborto é um direito da mulher; os contrários defendem que o feto não é parte do corpo dela, mas sim outro organismo que depende temporariamente do útero da mãe para se desenvolver. Abortar, portanto, seria cometer um crime. E isso nos leva necessariamente para o foco da polêmica: o conceito de vida humana.

Quando começa a vida?
A questão fundamental do aborto está no conceito de vida. E é aí que a coisa complica.
De forma sucinta, podemos dizer que há quatro diferentes interpretações para o fenômeno. Há o grupo que defende que a vida surge no momento da fertilização do óvulo. Outros acreditam que o marco inicial da vida é a implantação do óvulo fecundado no útero, chamada cientificamente denidação. Um terceiro grupo afirma que a vida se inicia a partir do momento em que o feto começa a ter atividade cerebral. E, por fim, há o grupo baseado na postura filosófica existencialista, segundo a qual só há vida quando a pessoa se põe no mundo e toma consciência de sua existência.
Como se vê, da fecundação ao nascimento, não há um instante biológico privilegiado, com o qual todos concordem. Na maioria dos países em que o aborto é permitido, o prazo limite para a interrupção da gestação é definido pelo conceito da viabilidade, ou seja, o momento a partir do qual o feto, com o auxílio de aparato médico, é capaz de viver fora do útero. Isso geralmente se dá por volta da 24ª semana de gestação.

Promova um debate com a turma
Essa polêmica não é nova, e vale a pena ser debatida em sala de aula. Nosso papel como educadores é incentivar o conhecimento e ajudar os alunos a interpretarem os fatos para poderem formar suas opiniões de acordo com suas visões de mundo. Para isso, sugiro a seguir um breve encaminhamento do assunto com a turma:

1a etapa
Inicie a conversa mostrando que gerar uma vida é da natureza da mulher e do homem, mas ser mãe ou pai pode ser uma escolha. Para isso, o melhor caminho é usar os métodos contraceptivos para prevenir a gravidez. Infelizmente, nem todo mundo tem informação adequada e motivação para se prevenir, ou acesso a métodos contraceptivos, o que leva muitas mulheres a se depararem com o dilema de interromper ou continuar a gravidez. Problematize o assunto com a turma perguntando: O aborto pode ser uma solução menos penosa entre duas alternativas difíceis? Ou a lei deve permanecer como está?

2ª etapa
Divida os alunos em grupo e peça para pesquisarem os argumentos a favor e contra a legalização do aborto. Depois, peça que cada grupo apresente suas considerações e conclusões. O professor pode sistematizar no quadro os principais argumentos e instigar os alunos a defendê-los ou refutá-los.
Você já abordou esse assunto com seus alunos? Quais foram as questões levantadas por eles?
Até a próxima!


http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2014/06/26/como-falar-sobre-aborto-com-os-alunos/

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