Coronelismo: os segredos por trás da enxada e do voto
Apresente e contextualize
os termos "Coronelismo" e "voto de cabresto" para os alunos
e faça um panorama do poder político dos proprietários de terra do nordeste no
início do século 20
Imagem da mini-série
Gabriela da rede Globo inspirada na obra de Jorge Amado. Na foto, a população
de Ilhéus e alguns Coroneis. (Foto: Gabriela / TV Globo) reprodução
Objetivos
-Conhecer e refletir sobre
os chamados "coronéis" do nordeste e seu poder político no início do
século 20
Conteúdos
-História do Brasil
-Primeira República
-Coronelismo
Anos - Ensino Médio
Anos - Ensino Médio
Tempo estimado Uma aula
Materiais necessários
- Cópias da reportagem "Parada no Tempo" (Veja,
2317, 17 de abril de 2013)
-Trecho do livro
"Coronelismo, Enxada e Voto" de Victor Nunes Leal. (P. 43-44)
-Trecho do filme "Gabriela, Cravo e Canela" (Bruno
Barreto, 1983). De 5529 a 1º0028. Disponível no You Tube.
Desenvolvimento
1ª etapa
Inicie esta etapa de
trabalho comentando com os alunos que o termo "Coronelismo" é
muito recorrente na história da república brasileira e na política. Pergunte à
turma qual é o significado da expressão e anote as respostas no quadro.
Explique aos alunos que o
termo "Coronelismo" remete a um momento anterior à República. Quando
Dom Pedro I deixou o reinado, em 1831, foi criada a Guarda Nacional, criando um
coronelismo institucional. Na ocasião, as patentes militares foram colocadas à
venda pelo governo regencial que comandou o Brasil até 1842. Os homens mais
ricos, grandes proprietários de terra, em geral, puderam comprar títulos de
tenente, capitão, major, tenente-coronel e de coronel da Guarda Nacional, que
era o mais importante de todos.
Apesar da origem do termo
ainda no período imperial, foi na República que ele ganhou mais
representatividade no cotidiano do povo brasileiro e passou a conceder poderes
maiores ao portador do título. Os coronéis da Primeira República eram grandes
latifundiários e, eventualmente, comerciantes enriquecidos, que gozavam de
grande poder e de muitos privilégios sobre a população brasileira. O grande
diferencial do poder dos coronéis era a capacidade de determinar em quem os
eleitores votariam. A expressão "voto de cabresto" é relativa a esse
período da história do Brasil, pois o voto não era secreto e os jagunços dos
coronéis utilizavam de punição física caso algum eleitor se manifestasse contra
os interesses do mandatário local. Verifique se os alunos conhecem histórias
similares nos dias atuais e incentive que eles façam o relato.
2ª etapa
Após introduzir o conceito
de "Coronelismo" e de identificar seu momento histórico de maior
influência, leia com a turma a passagem a seguir do clássico livro de Victor
Nunes Leal chamado "Coronelismo, Enxada e Voto", disponível na
internet, como auxílio para explorar outros elementos.
Coronelismo, Enxada e Voto
O fenômeno de imediata
observação para quem procure conhecer a vida política no interior do Brasil é o
malsinado coronelismo. Não é um fenômeno simples, pois envolve
um complexo de características da política municipal [...]. Como
indicação introdutória, devemos notar, desde logo, que concebemos o coronelismo como resultado da
superposição de formas
desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada.
Não é, pois, mera
sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constitui fenômeno típico de
nossa história colonial. É antes uma forma peculiar de manifestação do poder
privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo
e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de
extensa base representativa.
Por isso mesmo, o coronelismo é, sobretudo, um
compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente
fortalecido, e a decadente influência social dos chefes
locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois, compreender o
fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece base de
sustentação das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior
do Brasil.
Paradoxalmente, entretanto,
esses remanescentes de privatismo são alimentados pelo poder público, e isso se
explica justamente em função do regime representativo, com sufrágio amplo pois
o governo não pode prescindir do eleitorado rural, cuja situação de dependência
ainda é incontestável. Desse compromisso fundamental resultam as
características secundárias do sistema coronelista, como sejam, entre outras, o
mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços
públicos locais." Victor Nunes Leal (P. 43-44)
Antes de orientar a
discussão, pergunte à turma o que foi entendido com o texto e estimule um
debate com fins de definição do coronelismo. Explique alguns pontos que são
importantes para compreensão do fenômeno. O coronelismo é uma manifestação
diferenciada do poder privado em meio a um regime político de base
representativa.
A ligação com o poder
público foi feita através de um compromisso que estabeleceu trocas de favores.
A força dos coronéis prestava grande favor ao presidente, preparando seu
sucessor, e aos deputados, fornecendo-lhes votos e a permanência no poder
político. Ou seja, uma completa interferência e manipulação dos votos, já que
os coronéis obrigavam a população a votar nos candidatos que escolhiam.
Charge sobre
o voto de cabresto. Fonte: Wikmedia Commons
3°etapa
Nesta etapa, após verificar
o que os alunos apreenderam sobre o conceito de "Coronelismo",
utilize a obra de Jorge Amado para ilustrar o tema em uma aula expositiva.
É importante que o
professor saiba que com a transferência da capital brasileira para a cidade do
Rio de Janeiro e em função do crescimento econômico do sudeste em torno do
café, o nordeste do país, que já era predominantemente rural, assumiu, mais
ainda, esta característica de domínio dos coronéis. Esses tipos estavam
espalhados pelos municípios nordestinos, mas nem todos eram amigos ou tinham o
mesmo poder. Inclusive, havia muita disputa pelo poder. O coronel mais poderoso
e violento se impunha. Assim, estabelecia alianças com outros fazendeiros e
decidia pelo candidato que queria para governador do estado.
O famoso escritor baiano
Jorge Amado retratou o cenário nordestino dominado por coronéis em seus
romances, demonstrando o poder e a disputa constante que acontecia entre os
grandes proprietários de terra. Exiba em sala o trecho indicado do filme "Gabriela, Cravo e Canela" de
1983.
Procure mostrar a cena
que retrata a disputa política entre coronéis e o uso da violência expressada
através de seus jagunços. Tais características eram recorrentes no nordeste. O
poder econômico dos coronéis, expresso através de suas propriedades rurais, refletia
em poderes políticos muito maiores.
A união desses dois
elementos fez com que coronéis permanecessem no comando de regiões rurais por
muito tempo, gerando famílias influentes na política nordestina. O cenário só
mudou com a dinamização da economia e a progressiva urbanização de certas
regiões, situações que criaram postos de trabalho desvinculados da terra e do
poder dos coronéis. Ainda assim, muito embora o poderio extremo dos coronéis no
início do século XX tenha caído, algumas famílias de grandes proprietários de
terras são predominantes na política nordestina e ainda desfrutam de certos
privilégios e poder. Para ilustrar essa explicação solicite que os alunos
leiam a reportagem "Parada no Tempo" de Veja. Em seguida,
exiba o vídeo "Cultura Retrô - Coronelismo" de
5 minutos dísponivel no You Tube. O vídeo faz uma síntese do assunto e o
liga aos dias atuais.
Após acrescentar os dois
vídeos à explicação, peça à turma que faça uma dissertação explicando o que é o
coronelismo, quem eram os coronéis, a origem do poder deles e o reflexo do
poder econômico no poder político. Solicite que o texto faça uma correlação do
poder dos proprietários de terra no nordeste no início da República com os dias
atuais e utilize pelo menos uma das fontes usada em sala de aula e outra fonte
livre confiável que o aluno deve pesquisar na internet. Verifique por meio da
dissertação e da participação nas aulas se a turma compreendeu o termo
coronelismo e a ligação entre propriedades rurais com poder político no debate
realizado sobre o texto de Victor Nunes Leal.
Antonio Gasparetto Júnior
Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
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