De olho
na ortografia
Mostrar
que a fala é diferente da escrita pode acabar com alguns dos erros mais comuns
Luciana Zenti (novaescola@atleitor.com.br)
"Professora,
casa é com s ou com z?" Se você leciona Língua Portuguesa para as séries
iniciais do Ensino Fundamental, certamente já ouviu muitas vezes perguntas
desse tipo. As dúvidas de ortografia nessa fase são comuns e o grande dilema é
justamente como solucioná-las. Por muito tempo, as escolas adotaram o repeteco:
o aluno escrevia a palavra dez vezes. Torcia-se para que ele tivesse uma
memória de elefante, capaz de decorar as grafias corretas. Dispostos a
encontrar uma forma melhor de solucionar o problema, os professores da Escola
de Educação Infantil e Ensino Fundamental Embaixador Assis Chateaubrind, em
Osasco (SP), desenvolveram um novo método que vem dando bons resultados.
Varal de regras
Pendure
as descobertas da turma na sala de aula. A partir de exemplos propostos por
você, as crianças deduzem as regras ortográficas e as escrevem em papéis, que
vão para o varal. Aos poucos, você classifica os assuntos por categorias. O
varal sempre cresce, pois as palavras novas são acrescentadas. A atividade só
faz sentido se houver uma discussão com as crianças. "É importante pensar
sobre as regras e escrevê-las", explica Vírginia Balau. "O trabalho
em grupo funciona bem porque, ao discutir com os colegas, o aluno toma
consciência das normas ortográficas."
"O
aluno pensa em várias possibilidades para representar um mesmo som", explica
a coordenadora da 2ª série, Silvia Regina Juhas. "Quando mostramos que a
escrita não é a transcrição pura e simples da fala, conseguimos eliminar muitos
erros." Para fazer essa demonstração, os professores de Osasco resolveram
primeiro descobrir quais eram os problemas mais recorrentes entre os alunos.
Começaram listando as categorias de erros ortográficos em um grande mural (leia
o quadro abaixo).
Ouvidos atentos
Música e ortografia podem ser uma ótima combinação. Escolha a regra que pretende trabalhar e proponha que as crianças transcrevam os versos ou completem lacunas enquanto ouvem o cantor. "Assim é possível direcionar a discussão em torno da regra que se quer reforçar", explica Virgínia Balau. Ouvindo Leãozinho, de Caetano Veloso, os alunos aprenderam o uso do verbo no infinitivo e perceberam que a escrita é diferente da fala. Essa atividade pode ser feita ainda com outros gêneros de textos, como histórias e receitas.
Em
seguida, propuseram aos alunos a reprodução de uma fábula. Isso permitiu categorizar
os erros mais comuns e, a partir daí, desenvolver atividades. "O quadro
mural é um diagnóstico para o professor planejar suas aulas", diz Virgínia
Balau, psicopedagoga e assessora pedagógica de várias escolas públicas e
privadas. "É recomendável, inclusive, que a sondagem seja freqüente, para
acompanhar a evolução dos alunos."
O
trabalho em sala de aula foi desenvolvido a partir da descoberta dos acertos.
Os professores discutiam as regras ortográficas com os alunos, ajudando-os a
entender o que escreviam. Dessa forma, o espaço da memória foi reservado para
os casos em que havia irregularidades. Depois disso era preciso fixar as
descobertas nos exercícios e finalmente fazer com que os alunos as aplicassem
nos próprios textos.
Em
todas as atividades, a coordenadora Silvia orienta os professores a mostrar a
diferença entre escrita e fala. "Temos sempre o cuidado de explicar que
não existe um jeito certo ou errado de se expressar, mas destacamos que a
escrita é uma convenção, com regras definidas." Segundo Maria José
Nóbrega, consultora da escola, o trabalho segue a recomendação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, que defendem que as crianças não sejam discriminadas
pelo falar. "Além disso, as atividades permitem que o aluno reflita sobre a
língua e aja pensando", conclui.
Radiografia dos erros mais comuns
Esta
categorização de erros ortográficos foi elaborada pela consultora Maria José
Nogueira e adaptada para a escola Assis Chateaubriand. Avalie as principais
dificuldades de seus alunos. Em seguida desenhe um quadro grande em cartolina
ou papel sulfite, escrevendo os nomes dos alunos nas linhas e as categorias de
erros nas colunas. Elas devem ser subdivididas em:
Transcrição da fala
Ocorre
quando o aluno escreve como fala. Aqui entram os erros como redução de
gerúndios, ditongos, troca de e por i etc. Exemplos: pexe/ peixe,
cantano/cantando.
Regularidades contextuais
O aluno
não conhece as regras ligadas à posição ou à vizinhança da letra na palavra.
Inclui as deficiências na representação de r, s, z etc. Exemplos:
cachoro/cachorro.
Regularidades morfológicas
O aluno
não conhece as regras de formação de palavras, como sufixos, plural e
masculino. Exemplos: riquesa/riqueza, compramo/compramos.
Sílabas não-canônicas
São as
que fogem do modelo consoante seguida de vogal, como dígrafos e grupos
consonantais. Exemplos: seta/esta, secola/escola.
Segmentação de palavras
São os
casos de hipossegmentação (quando não há separação da palavra onde deveria) e
hipersegmentação (quando o aluno usa a separação em excesso). Exemplos:
amenina, o com vidado.
Etimologia
São as
palavras que têm de ser memorizadas, pois o aluno desconhece sua origem.
Exemplos: oje/hoje, cassador/caçador.
Nasalização
Erros
na representação do som nasal. Exemplos: pano/ pão, banãna/banana.
Quer saber mais?
Contatos
Escola
de Educação Infantil e Ensino Fundamental Embaixador Assis Chateubriand, Cidade
de Deus, s/nº, Osasco, SP, CEP 06029-900, tel. 11) 7084-5172
Maria José Nóbrega, R. São Paulo Antigo, 500, ap. 94, bl. B, CEP 05684-011, São Paulo, SP
Virgínia Balau, Rua Baltazar da Veiga, 489, ap. 67, CEP 04510-001, São Paulo, SP, tel. (11) 3846-2758 e 7245-2461, e-mail: virginiabalau@yahoo.com
Bibliografia
Maria José Nóbrega, R. São Paulo Antigo, 500, ap. 94, bl. B, CEP 05684-011, São Paulo, SP
Virgínia Balau, Rua Baltazar da Veiga, 489, ap. 67, CEP 04510-001, São Paulo, SP, tel. (11) 3846-2758 e 7245-2461, e-mail: virginiabalau@yahoo.com
Bibliografia
Ortografia:
Ensinar e Aprender, Artur Gomes de Morais, 128 págs., Ed. Ática, tel. (11)
3346-3000, 14,90 reais
Escrita e Alfabetização, Carlos Alberto Farraco, 72 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 11,80 reais
Escrita e Alfabetização, Carlos Alberto Farraco, 72 págs., Ed. Contexto, tel. (11) 3832-5838, 11,80 reais
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