Por que negamos o envelhecimento?
Debata com os alunos os
motivos de a sociedade negar o envelhecimento por meio de cirurgias,
tratamentos estéticos e até hormonais
Objetivos
Ø Aprender conceitos
sobre tempo e mudança
Ø Entender de que maneira a
noção de tempo e as mudanças comportamentais guiam nossas interpretações
sobre o envelhecimento
Ø Perceber a maneira como
nossa sociedade se relaciona com o envelhecimento
Conteúdos
Ø Tempo, mudança e corpo
Ø Como nossa época entende os
efeitos do tempo sobre o corpo
Tempo estimado Duas aulas
Materiais necessários
Ø Cópias para todos os
alunos da entrevista 'Vocês estão dez anos atrás de nós', diz médico
americano"(disponível no site de Veja) ou um
projetor de imagens
Anos Ensino Médio
Introdução
Todos nós sofremos as ações do tempo que se mostram não só em
nossos corpos, onde são mais visíveis, mas também em nosso espírito. Com o
passar do tempo, nossas atitudes e comportamentos sofrem alterações. Sempre
pensamos na relação entre juventude e velhice de forma ambígua, contrapondo os
valores atribuídos a cada uma dessas fases. E, a cada momento, de modo
aparentemente inconstante, enaltecemos mais ou menos algum aspecto relativo a
uma dessas fases - ora enaltecemos a energia da juventude frente ao cansaço do
corpo idoso, ora valorizamos a experiência dos mais vividos frente à
inconstância e imprudência juvenil.
Além disso, quando se trata
de nosso corpo, nossa sociedade valoriza os aspectos que caracterizam um corpo
jovem. Utilize a entrevista com o médico americano Jeffry Life, publicado no
site de Veja (disponível aqui), para problematizar com os alunos
questões envolvidas no tratamento que damos à noção de envelhecimento.
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Desenvolvimento
1° etapa
Inicie a primeira etapa
dizendo para a turma que a maneira como é compreendida a relação
entre tempo e mudança assume aspectos distintos em cada época e em cada
contexto social. A passagem do tempo traz mudanças ao corpo do sujeito. É
preciso que ele resignifique a imagem que ele faz de si mesmo. E esse novo
parâmetro ainda está atrelado ao horizonte da morte, fim certo de toda
pessoa e que se aproxima cada vez mais com o passar do tempo.
Diga aos alunos que, nesse
sentido, a psicanálise no século 20 traz importantes elementos para
pensar essas relações. A idade avançada é um momento em que, além da
proximidade com a morte, também apresenta a perda de elementos significativos
para a vida, por exemplo, a perda de entes queridos, perda do trabalho, entre
outras coisas. Além disso, há um papel fundamental da estrutura temporal
na dinâmica do desejo. Diante da situação presente, o sujeito busca
motivações em seu passado no intuito de atingir um determinado objeto futuro.
No entanto, a proximidade da morte que o envelhecimento traz limita as
perspectivas do tempo futuro. Isso traz mudanças à estrutura de desejo do
sujeito em várias dimensões.
Após essas considerações
gerais, distribua aos alunos cópias da entrevista do médico americano Jeffry
Life àVeja (disponível aqui) e peça a eles que leiam em casa o texto.
2ª etapa
Comece a próxima
etapa escrevendo na lousa ou lendo em voz alta a pequena passagem de um
poema do poeta grego Teógnis:
"Choremos a juventude e a velhice também,
Pois a primeira foge e a segunda sempre vem"
Pois a primeira foge e a segunda sempre vem"
Solicite aos alunos que
reflitam por um instante sobre as palavras do poeta grego e estabeleça um tempo
para isso. Em seguida, peça à turma que exponha, de maneira curta e objetiva,
suas opiniões sobre o trecho oferecido.
A partir das respostas dos
alunos, mostre a eles que o tempo e a mudança são questões fundamentais ao
longo de toda a história da Filosofia, e que cada época assumiu uma atitude
distinta em relação a elas.
Por exemplo, as palavras do
poeta Teógnis valorizam a juventude frente à velhice, e a chegada dessa é algo
a se lamentar. Há nisso dois aspectos relevantes. O primeiro deles é o de um
ideal de beleza que remonta à juventude; o corpo belo e saudável é aquele que
ainda não foi consumido pelo tempo. Atrelado a isso, há a própria maneira como
os gregos entendiam a relação entre mudança e permanência. Se para Heráclito a
realidade é puro movimento e mudança, havendo uma harmonia escondida por trás
da contínua mudança entre os contrários, para Parmênides o ser é aquilo que é
idêntico a si mesmo e imutável, sendo a mudança uma ilusão que nos afasta
daquilo que de fato o ser é, que nos afasta do caminho da verdade. Essa posição
de Parmênides obteve maior fortuna ao longo da história ocidental,
principalmente por meio de sua apropriação por Platão. Este afirmava que o ser
é imóvel e idêntico a si mesmo, e que o que observamos como mudança é um mundo
sensível que é cópia daquilo que o ser é - e, por ser assim uma cópia, possui
menos realidade do que o ser, o qual é acessível apenas pela alma.
Por isso, é preciso
encontrar em meio à multiplicidade das coisas sensíveis aquilo de que essas
coisas participam e faz com que elas sejam tal como são: não são as coisas
belas que definem o belo, mas é preciso encontrar o belo, inteligível, imóvel e
eterno que dá a beleza às coisas belas. Já aqui temos uma perspectiva para a
qual aquilo que tem mais realidade escapa à mudança temporal.
Informe a turma que essa
perspectiva também influencia o pensamento cristão, para o qual o tempo é a
marca da corrupção do ser criado. Deus, criador do mundo, é eterno não porque
dura todo o tempo, mas porque está fora da ordem do tempo, sendo esse o
percurso de geração e fenecimento daquilo que é criado.
3ª etapa
Inicie a última
etapa esclarecendo as dúvidas que os alunos trouxeram de casa após a
leitura do texto. Depois, explique aos alunos que o texto revela uma
atitude característica de nossas sociedades em relação ao envelhecimento.
Tempos atrás, em outras sociedades, a figura do idoso representava a sabedoria
e a fonte dos valores que pautariam a sociedade. Mas, as mudanças acontecidas
em nossa sociedade após a revolução social fez com que o valor que os
indivíduos têm seja atrelado ao que eles produzem, pondo assim em segundo plano
a herança dos valores de outras gerações.
Em contrapartida, o número
de indivíduos idosos aumenta cada vez mais em nossas sociedades. Esse
fato leva a uma demanda de reconhecimentos de direitos desses cidadãos,
como nas lutas por um sistema previdenciário justo e eficiente que garanta uma
aposentadoria apropriada para aqueles que trabalharam a vida toda.
Parte da luta pelo
reconhecimento da dignidade dos idosos é pela própria dignidade, muitas vezes
posta em segundo plano por não serem essas pessoas tão produtivas quanto os
indivíduos mais jovens.
Tudo isso põe nossa
sociedade em um nó muito complexo. De um lado, a necessidade do reconhecimento
dos direitos e das dignidades dos idosos. Em contrapartida, a sobrevalorização
de todos os aspectos da juventude, principalmente aqueles ligados ao corpo. A beleza
é um atributo de um corpo jovem - e não de qualquer corpo, mas um que atenda às
necessidades impostas por um certo padrão de corpo -, e envelhecerá melhor quem
puder manter esse corpo juvenil por mais tempo. A contradição aí é afirmar que
envelhecerá melhor quem apresentar menos aspectos do envelhecimento.
A entrevista com o médico
Jeffry Life apresenta ainda um aspecto muito importante e revelador de nossa
época. Ele afirma que não se trata de recusar o envelhecimento, mas de fazer um
"gerenciamento do envelhecimento".
Em uma sociedade
administrada, que sobrevaloriza o controle e o planejamento sobre todos
aspectos da vida humana - como se tudo devesse estar sempre submetido a um
cálculo para se obter o maior controle e eficiência, assim como se faz ao
cuidar de uma empresa -, é sintomático que os aspectos relativos à saúde do
indivíduo e à significação que isso tenha para ele sejam encarados do mesmo
modo. Em uma sociedade pautada pelo valor e na qual a aparência, especialmente
física, é um valor fundamental, encontramos diversas ofertas de tratamentos
médicos e programas de exercícios para combater os efeitos da passagem do
tempo - principalmente para manter a aparência de um corpo juvenil - sem
ao menos nos perguntarmos, por exemplo, de onde vêm esses ideais, o que os
sustentam, e se o questionamento deles, em vez de sua reprodução mecânica,
poderia possibilitar uma melhor compreensão da especificidade de cada
indivíduo em nossa sociedade.
Peça aos alunos que
elaborem em casa uma dissertação sobre o tema "Como nossa sociedade se
relaciona com o envelhecimento?", na qual eles devem discutir o tema a
partir do material oferecido para leitura e do que foi apresentado e debatido
em sala de aula, além de incluir seus pontos de vista sobre a questão, lembrando
que eles devem argumentar sobre seus pontos de vista com base no conteúdo lido
e discutido.
Avaliação
A avaliação deve ser feita
pela consideração da participação dos alunos nos debates em sala de aula e pela
análise da dissertação por eles elaborada. Nessa análise, considere como eles
entenderam a relação entre tempo e mudança, e a significação disso quanto ao
corpo do indivíduo. Considere também como eles relacionam isso com a maneira
que nossa época se relaciona com o envelhecimento e como eles argumentam seus
próprios pontos de vista a partir das questões tratadas.
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