domingo, 30 de novembro de 2014

Coronelismo: os segredos por trás da enxada e do voto

Objetivo(s)
Conhecer e refletir sobre os chamados "coronéis" do nordeste e seu poder político no início do século 20.

Conteúdo(s)
História do Brasil
Primeira República
Coronelismo

Ano(s)                              1º                 2º                3º

Tempo estimado            1 aula

Material necessário

·        Cópias do artigo “Bolsa Família: voto racional, e não de cabresto” (Veja 2401, 26 de novembro de 2014) (http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx?edicao=2401&pg=24 )
·        Cópias da reportagem "Parada no Tempo"  (Veja, 2317, 17 de abril de 2013) (http://veja.abril.com.br/acervodigital/ )
·        Trecho do livro "Coronelismo, Enxada e Voto" de Victor Nunes Leal. (P. 43-44)
·        Trecho do filme "Gabriela, Cravo e Canela" (Bruno Barreto, 1983). De 55:29min a 1:00:28s. Disponível no You Tube . (https://www.youtube.com/watch?v=3pK1YBAQpmY )

Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
O Brasil vive em regime de República desde 1889. Periodicamente, vamos às urnas escolher nossos representantes nos poderes Executivo e Legislativo. No início da implantação desse sistema de votos, quando a escolha dos candidatos era feita de maneira aberta, os coronéis regionais tinham papel fundamental no resultado das eleições. Ganhava o político que tinha mais amigos poderosos, que pressionavam seus currais eleitorais a votarem no candidato indicado por eles.
Atualmente, muito se discute sobre os programas de governo que criam uma rede de eleitores fiéis e dependentes, comparando-os com os votos de cabresto da República Velha.
No artigo “Bolsa Família: voto racional, e não de cabresto” (Veja 2401, 26 de novembro de 2014), o colunista Maílson da Nóbrega não considera que os beneficiários do Bolsa Família têm uma relação de cabresto com o atual governo, e explica por que. Leia o artigo e reflita com sua turma sobre o período do Coronelismo na história do Brasil com o plano de aula a seguir.

Atividades
1ª etapa

Inicie esta etapa de trabalho comentando com os alunos que o termo "Coronelismo" é muito recorrente na história da república brasileira e na política. Pergunte à turma qual é o significado da expressão e anote as respostas no quadro.
Explique aos alunos que o termo "Coronelismo" remete a um momento anterior à República. Quando Dom Pedro I deixou o reinado, em 1831, foi criada a Guarda Nacional, criando um coronelismo institucional. Na ocasião, as patentes militares foram colocadas à venda pelo governo regencial que comandou o Brasil até 1842. Os homens mais ricos, grandes proprietários de terra, em geral, puderam comprar títulos de tenente, capitão, major, tenente-coronel e de coronel da Guarda Nacional, que era o mais importante de todos.

Apesar da origem do termo ainda no per
íodo imperial, foi na República que ele ganhou mais representatividade no cotidiano do povo brasileiro e passou a conceder poderes maiores ao portador do título. Os coronéis da Primeira República eram grandes latifundiários e, eventualmente, comerciantes enriquecidos, que gozavam de grande poder e de muitos privilégios sobre a população brasileira. O grande diferencial do poder dos coronéis era a capacidade de determinar em quem os eleitores votariam. A expressão "voto de cabresto" é relativa a esse período da história do Brasil, pois o voto não era secreto e os jagunços dos coronéis utilizavam de punição física caso algum eleitor se manifestasse contra os interesses do mandatário local. Verifique se os alunos conhecem histórias similares nos dias atuais e incentive que eles façam o relato.

2ª etapa
Após introduzir o conceito de "Coronelismo" e de identificar seu momento histórico de maior influência, leia com a turma a passagem a seguir do clássico livro de Victor Nunes Leal chamado "Coronelismo, Enxada e Voto", disponível na internet, como auxílio para explorar outros elementos.

Coronelismo, Enxada e Voto
O fenômeno de imediata observação para quem procure conhecer a vida política no interior do Brasil é o malsinado "coronelismo". Não é um fenômeno simples, pois envolve um complexo de características da política municipal [...]. Como indicação introdutória, devemos notar, desde logo, que concebemos o "coronelismo" como resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada.
Não é, pois, mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constitui fenômeno típico de nossa história colonial. É antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.
Por isso mesmo, o ¿coronelismo¿ é, sobretudo, um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois, compreender o fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece base de sustentação das manifestações de poder privado ainda tão visíveis no interior do Brasil.
Paradoxalmente, entretanto, esses remanescentes de privatismo são alimentados pelo poder público, e isso se explica justamente em função do regime representativo, com sufrágio amplo pois o governo não pode prescindir do eleitorado rural, cuja situação de dependência ainda é incontestável. Desse compromisso fundamental resultam as características secundárias do sistema coronelista, como sejam, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do voto, a desorganização dos serviços públicos locais." Victor Nunes Leal (P. 43-44)
Antes de orientar a discussão, pergunte à turma o que foi entendido com o texto e estimule um debate com fins de definição do coronelismo. Explique alguns pontos que são importantes para compreensão do fenômeno. O coronelismo é uma manifestação diferenciada do poder privado em meio a um regime político de base representativa.
A ligação com o poder público foi feita através de um compromisso que estabeleceu trocas de favores. A força dos coronéis prestava grande favor ao presidente, preparando seu sucessor, e aos deputados, fornecendo-lhes votos e a permanência no poder político. Ou seja, uma completa interferência e manipulação dos votos, já que os coronéis obrigavam a população a votar nos candidatos que escolhiam.
O poder do coronel estava muito relacionado à distribuição populacional em regiões rurais do território brasileiro. Nesse contexto, o coronel era uma figura local de grande influência sobre os moradores de cidades menores, de regiões mais afastadas e de suas imediações. Os coronéis dominavam funções como de policiamento e de justiça que deveriam ser de autoridade do Estado nessas regiões. Submetendo, inclusive, delegados, juízes e prefeitos. Quanto mais terra possuísse, maior era seu poder, pois mais pessoas dependiam dele.

3ª etapa
Nesta etapa, após verificar o que os alunos apreenderam sobre o conceito de "Coronelismo", utilize a obra de Jorge Amado para ilustrar o tema em uma aula expositiva.
É importante que o professor saiba que com a transferência da capital brasileira para a cidade do Rio de Janeiro e em função do crescimento econômico do sudeste em torno do café, o nordeste do país, que já era predominantemente rural, assumiu, mais ainda, esta característica de domínio dos coronéis. Esses tipos estavam espalhados pelos municípios nordestinos, mas nem todos eram amigos ou tinham o mesmo poder. Inclusive, havia muita disputa pelo poder. O coronel mais poderoso e violento se impunha. Assim, estabelecia alianças com outros fazendeiros e decidia pelo candidato que queria para governador do estado.

O famoso escritor baiano Jorge Amado retratou o cen
ário nordestino dominado por coronéis em seus romances, demonstrando o poder e a disputa constante que acontecia entre os grandes proprietários de terra. Exiba em sala o trecho indicado do filme "Gabriela, Cravo e Canela" de 1983. 
Procure mostrar a cena que retrata a disputa política entre coronéis e o uso da violência expressada através de seus jagunços. Tais características eram recorrentes no nordeste. O poder econômico dos coronéis, expresso através de suas propriedades rurais, refletia em poderes políticos muito maiores.
A união desses dois elementos fez com que coronéis permanecessem no comando de regiões rurais por muito tempo, gerando famílias influentes na política nordestina. O cenário só mudou com a dinamização da economia e a progressiva urbanização de certas regiões, situações que criaram postos de trabalho desvinculados da terra e do poder dos coronéis. Ainda assim, muito embora o poderio extremo dos coronéis no início do século XX tenha caído, algumas famílias de grandes proprietários de terras são predominantes na política nordestina e ainda desfrutam de certos privilégios e poder. Para ilustrar essa explicação solicite que os alunos leiam a reportagem "Parada no Tempo" de Veja. Em seguida, exiba o vídeo "Cultura Retrô - Coronelismo" de 5 minutos dísponivel no You Tube. O vídeo  faz uma síntese do assunto e o liga aos dias atuais.

Avaliação
Após acrescentar os dois vídeos à explicação, peça à turma que faça uma dissertação explicando o que é o coronelismo, quem eram os coronéis, a origem do poder deles e o reflexo do poder econômico no poder político. Solicite que o texto faça uma correlação do poder dos proprietários de terra no nordeste no início da República com os dias atuais e utilize pelo menos uma das fontes usada em sala de aula e outra fonte livre confiável que o aluno deve pesquisar na internet. Verifique por meio da dissertação e da participação nas aulas se a turma compreendeu o termo coronelismo e a ligação entre propriedades rurais com poder político no debate realizado sobre o texto de Victor Nunes Leal.



http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/coronelismo-os-segredos-por-tras-da-enxada-e-do-voto

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