domingo, 30 de novembro de 2014

Violência contra a mulher: quem ama não maltrata

Sete em cada dez mulheres sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo de suas vidas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Diferentemente do que se pode imaginar, a violência de gênero, não é exclusiva dos adultos. Estudos do Banco Mundial mostram que é muito mais provável, em todo o mundo, uma mulher entre 15 e 44 anos sofrer esse tipo de violência do que de ter câncer, malária, ou se envolver em acidentes de trânsito.
A violência contra mulher origina-se na desigualdade de gêneros, de que tratei na semana passada. A ideia machista de que as mulheres são seres com menos direitos fundamentaria a submissão delas às vontades e desejos dos homens. Infelizmente, este debate é mais atual do que nunca. Nesta semana, uma petição ganhou notoriedade na internet ao pedir que a Polícia Federal brasileira negue a entrada do suiço Julien Blanc, que vem ao Brasil em 2015 para ministrar palestras sobre “como pegar mulheres”. Apertar os pescoços das mulheres ou colocar seus rostos à força em direção à virilha dele são algumas das “táticas” ensinadas. É por essas e tantas outras razões que esse tema precisa ser abordado na Educação Sexual.
Tudo pode começar de forma muito sutil: o namorado demonstra ciúmes, marca em cima…  São atitudes que aos olhos de quem está apaixonada podem parecer grosserias à toa ou até mesmo provas de amor. Até que um dia ele puxa o braço da garota com mais força e a machuca. Será que a menina não precisa ficar esperta e cair fora desse relacionamento?
Se uma aluna chega à escola com uma mancha roxa no braço, o educador deve intervir e conversar em particular com a aluna para descobrir o que houve e, caso se confirme a violência, analisar juntos os prós e contras desse relacionamento e como a menina pode buscar ajuda. A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres colocou à disposição da população um canal de telefone para denunciar a violência doméstica e receber atendimento -número é o 180.
No entanto, mais importante do que oferecer assistência às alunas que sofrem esse tipo de violência é fazer um trabalho de prevenção com todos os alunos, meninas e meninos. Não precisamos esperar acontecer uma tragédia para trazer esse tema à sala de aula. É fundamental que os alunos entendam que quem ama não maltrata.
Meninos e meninas precisam saber que ninguém é propriedade de ninguém. Nós estamos em pleno século 21, a mulher já conquistou vários direitos, entre eles o de não ser tratada como propriedade de alguém. É inadmissível que em nome do amor, ou desse sentimento de propriedade, um homem agrida uma mulher. Desde 2010 a Lei Maria da Penha garante esse direito às mulheres. Isso precisa ser divulgado, trabalhado e analisado desde a adolescência.

Lei Maria da Penha
Essa lei homenageia a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que ficou paraplégica depois de levar um tiro do próprio marido enquanto dormia e conseguiu, depois de lutar por 20 anos, que ele fosse condenado. Além de criar em todos os estados um juizado especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a Lei Maria da Penha alterou o Código Penal, permitindo, principalmente, que agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada. A lei também traz uma série de medidas para proteger a mulher agredida, que está em situação de agressão ou cuja vida corre riscos. Essa lei protege as mulheres em relacionamentos estáveis ou eventuais, como o namoro e o ficar.

Sugestão de trabalho na sala de aula
1a etapa
Inicie o trabalho dizendo aos alunos que fará um trabalho muito especial para ambos os sexos, embora aparentemente, pareça favorecer apenas as mulheres. E anuncie o tema: violência contra a mulher.
Pergunte se eles já ouviram falar de alguma situação em que essa violência aconteceu, e pede que contem as formas de violência de que já ouviram falar.
Em seguida, complemente que as formas de violência mais comuns variam da agressão física mais branda (tapas e empurrões), seguida pela violência psíquica (xingamentos, ofensas à conduta moral da mulher) e a ameaça (coisas quebradas, roupas rasgadas, objetos atirados e outras formas indiretas de agressão).

2a etapa
Divida os alunos em quatro grupos, distribua uma folha de papel sulfite para cada e peça que eles criem uma história sobre uma situação que eles julguem ter havido uma violência por parte do namorado contra sua namorada, relatando o contexto em que tudo aconteceu.
Em seguida, recolha as histórias e passe para o grupo seguinte, de tal forma que nenhum grupo fique com sua própria história. Diga aos alunos que eles serão advogados e receberão o caso para analisar e julgar se houve uma violência contra a mulher e quais as medidas que deveriam ser tomadas.

3a etapa
Depois que o trabalho estiver pronto, os grupos devem apresentar para a classe. Faça as complementações necessárias para a compreensão de que essas atitudes são consideradas crime e então apresente a Lei Maria da Penha. Mostre aos alunos que, além de não praticarem essa violência, é muito importante que os meninos se unam às meninas para apoiá-las na prevenção dessas situações.. E que as meninas precisam aprender a não serem condescendentes.
Explique que quando a garota perceber que está sendo agredida, mesmo que seja um “mau jeito”, ela não deve aceitar e precisa fazer algo a respeito. Qualquer tipo de violência deve ser repudiado!  Ninguém deve aceitar ou tentar justificar o ato do outro  que lhe traz dor, sofrimento ou constrangimento. Muito menos, quando isso ocorre por que o homem quer demonstrar sua superioridade.
Várias culturas estimulam e confirmam essa violência no seu dia a dia como uma forma natural de comportamento, o que torna mais difícil o seu combate e a gravidade deste problema. Alerte suas alunas! Diga claramente e sem medo para elas: isto não é amor, é violação dos direitos humanos.


http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2014/11/13/violencia-contra-a-mulher-quem-ama-nao-maltrata/

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