O legado da Guerra de
Canudos
Apresente à turma a história da comunidade de Canudos e incentive que os
alunos investiguem a influência dos conflitos do inicio da República no
cotidiano atual do Brasil
Pintura
retratando a comunidade de Canudos no interior do estado da Bahia, antes da
guerra. Fonte: Wikmedia Commons.
Objetivos
Ø Identificar características
do período da Primeira República.
Ø Compreender a importância
da história da comunidade de Canudos
Ø Aprender os principais
pontos para investigar o legado sócio político de Canudos no contexto do Brasil
atual
Conteúdos
Ø Primeira República
Anos Ensino Médio
Tempo estimado Uma aula
Materiais necessários
Ø Copias da reportagem de
Veja "
Surpresas do Passado", disponível no acervo digital de Veja.
Ø Fragmento "A Guerra
das Caatingas" do livro "Os Sertões" de Euclides da
Cunha, disponível no portal Domínio Público.
Ø Sala de computadores com
internet disponível para exibição da reportagem do Jornal da Record sobre a Guerra
de Canudos ou sala equipada com aparelho de DVD e televisão com
uma cópia em DVD da reportagem.
Introdução
Para alcançar os objetivos
desta aula, é importante apresentar os principais tópicos que contextualizam a
Guerra de Canudos e explicam o surgimento da comunidade de nordestinos
revoltosos. Esse cuidado didático será fundamental para solicitar um relatório
de pesquisa a respeito do atual legado da comunidade de Canudos no final da
aula.
Com sua ajuda e por meio da
aula sobre Canudos, os alunos podem perceber a origem do conceito de favela no
Brasil, qual a função do aumento do número de armas em um páis, o poder de
líderes carismáticos em determinados momentos históricos e alguns fatores
determinantes para construir uma narrativa oficial. Em outras palavras: qual é
o legado de Canudos.
LEIA MAIS
Desenvolvimento
1ª etapa
Inicie a aula informando à
turma que a aula é sobre as revoltas populares ocorridas na Primeira República
brasileira e que o foco de estudo será a comunidade de Canudos no interior do
estado da Bahia. O período da Primeira República corresponde ao fim do Império
em 1889 até 1930.
Esta é uma fase regida pela
primeira Constituição republicana brasileira e marcada pelo poder de grupos
oligárquicos que estavam ligados ao cultivo de café e às grandes propriedades
de terra.
O regime político era o
presidencialismo e as eleições eram caracterizadas pelo chamado voto de
cabresto. Os coronéis, grandes proprietários de terra, controlavam os votos de
seus subordinados e definiam os rumos políticos de acordo com seus interesses.
A votação não era secreta e fraudes nas eleições eram corriqueiras. Confira aqui
o plano de aula sobre Coronelismo.
Depois de contextualizar o
período, pergunte se os alunos conhecem ou já ouviram falar da
Guerra de Canudos e Antônio Conselheiro. Anote as respostas no quadro.
Apresente o tema por meio
da reportagem do Jornal da Record sobre a Guerra de
Canudos.
Após a exibição, pergunte
se os alunos ficaram com alguma dúvida e incentive os comentários sobre a
Guerra de Canudos.
Na próxima etapa, apresente
um breve perfil biográfico do líder da comunidade de Canudos conhecido como
Antônio Conselheiro que pregava aos seus seguidores que a República brasileira
era uma manifestação do anticristo.
2° etapa
Estimule a reflexão dos
alunos por meio de algumas questões:
ü O que caracteriza um líder?
ü Quais outros líderes
históricos os alunos conhecem?
ü Finalmente, como o momento
histórico da Primeira República foi importante para aumentar o carisma e dar um
ar messiânico para Antônio Conselheiro?
Explique à turma que o
momento histórico é fundamental para legitimar o perfil do líder. O resultado
pode ser positivo ou negativo. Cite os exemplos de Adolf Hitler, na Alemanha, e
de Nelson Mandela, na África do Sul.
Lembre ainda que, durante a
Primeira República brasileira, houve outros movimentos de revolta, como, por
exemplo, a Guerra do
Contestado e a Revolta
da Chibata.
O primeiro movimento teve
lugar na fronteira do Paraná com Santa Catarina e também teve um
líder messiânico chamado João Maria. Ele reuniu mais de 20 mil
seguidores e criou uma comunidade monarquista que não obedecia à República. O
resultado foi a repressão do exercito, assim como aconteceu em Canudos.
A segunda revolta aconteceu
no Rio de Janeiro e foi conhecida como a Revolta da Chibata. Marinheiros se
revoltaram contra os maus tratos que eram submetidos. Saiba mais aqui.
Após a reflexão sobre
o contexto histórico e o surgimento de movimentos e líderes, utilize o texto a
seguir como auxílio para explicar o perfil e a trajetória de Antônio
Conselheiro. Se preferir, distribua cópias para todos os alunos.
Quem foi Antônio Conselheiro?
Antônio Vicente Mendes
Maciel, apelidado mais tarde de Antônio Conselheiro, nasceu na cidade de
Quixeramobim, no Ceará, em 13 de março de 1830. Foi comerciante, professor e
advogado. Foi casado, no entanto, há relatos não oficiais que a esposa de Conselheiro
foi infiel e trocou o pregador por um sargento da força pública. Dizem também
que, por esse motivo, Conselheiro abandonou tudo e passou a vagar pelos sertões
do Nordeste.
Em 1876, Conselheiro foi
preso. Alegaram que ele havia matado a mulher e a mãe. Depois de solto, ele
continuou sua peregrinação. É importante ressaltar que parte de seus argumentos
tocavam diretamente à população pobre da época: condenação da cobrança abusiva
de impostos; repúdio ao casamento apenas no civil; defesa da separação
entre Estado e Igreja; Todos esses pontos faziam parte da pregação messiânica
de Conselheiro e utilizada como provas do final dos tempos.
Foram 25 anos de andança
até chegar a Canudos, um arraial localizado no interior do norte da Bahia. Ele
chegou em 1893. Junto dele vieram milhares de seguidores atraídos pela pregação
religiosa.
A escravidão havia sido
abolida em 1888 e os ex-escravos sofriam com o preconceito. Eles não tinham
direitos à terra. Eram raras as oportunidades de emprego. Essas pessoas se
uniram a outros indivíduos empobrecidos do sertão baiano para seguir
Conselheiro. No total, cerca de 25 mil pessoas passaram a viver em Belo
Monte, nome que Conselheiro deu a Canudos. (Antonio Gasparetto)
Antônio
Conselheiro morto. Essa é a única foto conhecida do líder. A
foto foi tirada por Flávio de Barros no dia 6 de outubro de 1897. Fonte:
Wikmedia Commons
3ª etapa
Nesta etapa, mostre que os
relatos históricos podem divergir. Há mais de uma forma de narrativa de como
era organizado Canudos e como foi o conflito com o exército republicano.
Conte à turma que passados
alguns anos da chegada de Antônio Conselheiro a Canudos, os líderes da
República começaram a se incomodar com as agitações do arraial. A população na
região aumentou significativamente.
Informe os alunos que este
ponto é fundamental para apurar a versão mais próxima da verdade. Por que um
grupo de miseráveis incomodou tanto a República?
A região de Canudos
apresentava péssimas condições de sobrevivência. O clima era muito seco,
afetando o plantio e matando pessoas e animais por falta de água. A situação
social precária gerava agitações e propiciou o surgimento de bandos fortemente
armados que vagavam pelos sertões invadindo propriedades de coronéis em busca
de alimentos e água. Esta é a versão tradicional sobre as condições de vida em
Canudos. Neste momento leia com a turma a reportagem "Surpresas
do Passado" disponível no acervo digital de Veja.
O texto fala de documentos
disponíveis no Arquivo
Nacional, no Rio de Janeiro, que possui selo do programa de Memória
do Mundo, da Unesco, dedicados a preservar acervos de grande valor histórico.
Nos registros de Canudos é relatada não uma comunidade de fanáticos e
miseráveis, mas a segunda maior população do estado. Segundo estes documentos,
havia em Canudos uma criação de gado, fábrica de rapadura, e produção de
couro de bode e ovelha, comercializado para fora do país. As fotos do
baiano Flavio de Barros são usadas como prova destes argumentos.
A leitura da reportagem
será importante para mostrar aos alunos que a História não é uma narrativa
fechada, fixa. Os relatos oficiais são mutáveis de acordo com a descoberta de
novas fontes e de novas informações.
Pergunte como os alunos imaginam que era a comunidade de Canudos. Eles imaginam que Canudos era prospera economicamente? Como eles fundamentam os respectivos pontos de vista?
Pergunte como os alunos imaginam que era a comunidade de Canudos. Eles imaginam que Canudos era prospera economicamente? Como eles fundamentam os respectivos pontos de vista?
4° etapa
Nesta etapa, reforce os
pontos fundamentais sobre o advento e desfecho trágico da comunidade
de Canudos.
Antônio Conselheiro assumiu
uma imagem de líder popular messiânico, enviado por Deus, que viria para livrar
a população da pobreza e das perversidades da República.
Não demorou para que
Antônio Conselheiro fosse identificado como inimigo da Igreja Católica e dos
coronéis. Os religiosos estavam insatisfeitos com a quantidade de fieis que
passaram a seguir um falso profeta e os proprietários de terra reclamavam da
perda de mão-de-obra e dos saques em suas propriedades.
A insatisfação contra
Canudos tornou-se guerra em 1896, quando houve um confronto no
município de Uauá entre um destacamento policial do governo baiano
e canudenses.
O destacamento policial
deslocava-se para Canudos quando foi surpreendido e derrotado pelos seguidores
de Conselheiro.
Diga à turma que a situação
ficou ainda mais incontrolável depois desta vitória. Padres e coronéis exigiram
medidas urgentes do governo baiano para acabar com Canudos. Jornalistas e
intelectuais também estavam contra Antônio Conselheiro, pois acreditavam que o
arraial era um reduto de defensores da monarquia.
Em janeiro de 1897,
houve uma segunda expedição militar contra o arraial que
também foi derrotada.
Então, em março do mesmo
ano, o governo federal que assumiu a repressão. Na época, o presidente do
Brasil era Prudente de Morais, que ordenou uma expedição oficial do
exército brasileiro para acabar com o movimento de Antônio Conselheiro.
Todavia, esta expedição também foi derrotada.
O Ministro da Guerra do governo Prudente de Morais, Carlos Machado Bittencourt, recrutou cerca de 10 mil soldados para uma quarta expedição. A investida começou em junho e em setembro os soldados cercaram o arraial de Canudos.
O Ministro da Guerra do governo Prudente de Morais, Carlos Machado Bittencourt, recrutou cerca de 10 mil soldados para uma quarta expedição. A investida começou em junho e em setembro os soldados cercaram o arraial de Canudos.
Antônio Conselheiro faleceu
no dia 22 deste mesmo mês em 1897, vítima de disenteria. Mesmo assim,
parte dos seus seguidores manteve a resistência que durou até o dia 5 de
outubro.
O exército republicano
promoveu um verdadeiro massacre, matando milhares de inocentes e
degolando centenas de prisioneiros, além de incendiar o arraial.
5ª etapa
Nesta etapa, resgate a
reportagem do Jornal da Record apresentada no início da aula. A reportagem cita
o jornalista Euclides da Cunha, que acompanhou todos os eventos e escreveu um
livro reportagem, fonte documental muito importante para entender Canudos. O
livro "Os Sertões" é uma extensa descrição que abrange desde as
características físicas e sociais da região até o último momento da repressão
do exército brasileiro.
Leia com a turma um trecho
de sua obra que relata o confronto com o exército brasileiro e os artifícios
dos sertanejos para se aproveitarem do terreno em que viviam:
Trecho de "A Guerra
das Caatingas"
"Ao passo que as
caatingas são um aliado incorruptível do sertanejo em revolta.
Entram também de certo modo
na luta. Armam-se para o combate; agridem.
Trançam-se, impenetráveis,
ante o forasteiro, mas abrem-se em trilhas multívias para o matuto que ali
nasceu e cresceu. E o jagunço faz-se o guerrilheiro-tugue, intangível...
As caatingas não o escondem
apenas, amparam-no. Ao avistá-las, no verão, uma coluna em marcha não se
surpreende. Segue pelos caminhos em torcicolos, aforradamente. E os soldados,
decassando com as vistas o matagal sem folhas, nem pensam no inimigo. Reagindo
à canícula e com o desalinho natural às marchas, prosseguem envoltos no vozear
confuso das conversas travadas em toda a linha, virguladas de tinidos de armas,
cindidas de risos joviais mal sofreados. [...] De repente, pelos seus flancos,
estoura, perto, um tiro...
A bala passa, rechinante,
ou estende, morto, em terra, um homem. Sucedem-se, pausadas, outras, passando
sobre as tropas, em sibilos longos. Cem, duzentos olhos, mil olhos
perscrutadores, volvem-se, impacientes, em roda. Nada veem. Há a primeira
surpresa. Um fluxo de espanto corre de uma a outra ponta das fileiras. E os
tiros continuam raros, mais insistentes e compassados, pela esquerda, pela
direita, pela frente agora, irrompendo de toda a banda...
Então estranha ansiedade
invade os mais provados valentes, ante o antagonista que vê e não é visto.
Forma-se claramente em atiradores uma companhia, mal destacada da massa de
batalhões constritos na vereda estreita. Distende-se pela orla da caatinga.
Ouve-se uma voz de comando; e um turbilhão de balas rola estrugidoramente
dentro das galhadas..." ("Os Sertões" de Euclides da Cunha)
Explique aos alunos que o
vocabulário rebuscado de Euclides da Cunha era típico de intelectuais da época,
por isso pode parecer um texto complicado de se entender.
Esclareça o significado de
algumas palavras, ressaltando, contudo, que essa passagem do livro demonstra a
habilidade dos sertanejos em tirar proveito do terreno que bem conheciam para
derrotar tropas do exército brasileiro compostas de mais homens.
O relato faz parte da primeira
fase do conflito. A quarta expedição militar terminou com o massacre dos
moradores do arraial de Canudos. Estima-se que morrerarm cerca de 25 mil
pessoas nos conflitos.
Mulheres e
crianças seguidoras de Antônio Conselheiro. O grupo foi preso durante
os últimos dias da guerra. Fonte: Flávio de Barros/Wikmedia Commons
Avaliação
Solicite um trabalho para
verificar o que os alunos compreenderam sobre a aula e para que eles construam
o entendimento sobre o legado de Canudos.
Peça que os alunos
pesquisem sobre os termos "Matadeira" e "Favela", que
aparecem na reportagem do Jornal da Record.
Após a pesquisa,
solicite que eles escrevam um relatório com o resumo da aula e o
significado dos termos pedidos.
Oriente que o texto
produzido precisa relacionar fatos históricos com temas atuais como: influência
da religião no estado, relevância de líderes carismáticos, aumento da
circulação de armas no território e como se produz uma fonte oficial de fatos.
Verifique no
relatório se a turma compreendeu os principais fatos da Primeira República
que fizeram surgir Canudos e as diferentes possibilidades de narrativa deste
acontecimento histórico.
Você pode sugerir à turma o
conteúdo de "Para saber mais" como fonte de pesquisa.
Para saber mais
Vídeo
Documentário "A Matadeira" de Jorge Furtado, 15 minutos
Documentário "A Matadeira" de Jorge Furtado, 15 minutos
Áudio
"A Matadeira - no balanço da justiça" música do grupo Cordel do Fogo Encantado
"A Matadeira - no balanço da justiça" música do grupo Cordel do Fogo Encantado
Plano de aula
"O que resolve a violência urbana" , trecho que conta a origem do nome favela que remete a comunidade de Canudos
"O que resolve a violência urbana" , trecho que conta a origem do nome favela que remete a comunidade de Canudos
Antonio Gasparetto
Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
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