A descriminalização
da maconha
Fomente a discussão sobre os novos movimentos sociais e organize a
classe para realizar um debate sobre o assunto
Objetivos
Discutir o conceito de movimento social e suas características
Reconhecer e identificar algumas das principais reivindicações dos
movimentos sociais contemporâneos
Compreender o debate atual sobre a liberação e descriminalização da
maconha, seus pontos favoráveis e contrários
Conteúdos
Novos movimentos sociais
Movimentos populares urbanos
Anos Ensino
Médio
Tempo estimado Três aulas
Material necessário
Cópia da reportagem "ONU sugere pela
primeira vez a descriminalização do consumo de drogas"
Cópia do artigo "Guerra às
drogas", da revista Superinteressante
Cópia do documentário "Ilegal", dirigido por Raphael
Erichsen e Tarso Araújo, sobre o uso medicinal de derivados de maconha
Cópia da matéria "Legal e
controlada", do jornal O Estado de S. Paulo
Cópia da reportagem "Uruguai aprova
legalização do cultivo e venda de maconha" do site da BBC
Leia mais
Reportagem | Cinco perguntas sobre consumo de drogas na escola
Desenvolvimento
1ª etapa
Inicie a aula com uma conversa informal sobre a descriminalização
ou regulamentação do uso de drogas entorpecentes, como a maconha. Para
estimular o debate, você poderá usar exemplos como dos estados americanos do
Colorado e Washington (onde o consumo é descriminalizado e o comércio
regulamentado), e também do Uruguai (onde a comercialização recentemente passou
a ser permitida, sob controle direto do Estado). Explique que essas medidas se
apresentam como alternativas ao proibicionismo (ou "guerra total contra as
drogas"), isto é, a postura assumida atualmente pela maioria dos países do
mundo, no qual medidas sociais, jurídicas e terapêuticas são concentradas para
eliminar o consumo de drogas ilícitas.
Após essa conversa inicial, distribua as cópias da reportagem "ONU sugere pela
primeira vez a descriminalização do consumo de drogas", do
portal UOL Notícias, e realize uma leitura dirigida. Sempre que necessário,
esclareça dúvidas ou questionamentos da turma. O objetivo dessa atividade é
familiarizar a turma com os debates sobre novas formas de enfrentar a questão
das drogas ilícitas.
Ao final da leitura, peça que os alunos procurem identificar as
ideias centrais do texto e que opinem sobre a importância dessa mudança na
postura oficial do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime
(UNODC). Estimule os alunos a descreverem (baseados no texto, mas utilizando
suas próprias palavras) quais as diferenças entre descriminalização do consumo
e a regulamentação da distribuição das drogas entorpecentes. Se preferir,
utilize o quadro para anotar palavras-chave ou argumentos propostos pela turma.
Procure saber o que a turma pensa sobre essas decisões políticas:
os alunos as enxergam como uma forma de amenizar os problemas causados pelas
drogas ou como uma escolha equivocada por parte do Estado e das autoridades? Na
opinião deles, a solução do problema passa pela descriminalização do usuário ou
ainda pela regulamentação do comércio de entorpecentes, seja ele realizado por
entidades privadas sob a supervisão do governo ou diretamente controlado pelo
Estado, como no caso uruguaio. Ressalte que a maconha é frequentemente
mencionada nesses debates por dois motivos principais: sua suposta baixa
capacidade de gerar dependência e seus efeitos menos nocivos quando comparados
aos das demais drogas ilícitas (cocaína, crack, heroína e drogas sintéticas) e
até mesmo em relação às bebidas alcoólicas.
Para concluir esta etapa, faça com que a turma pense e discuta a
respeito das origens e fatores determinantes da mudança de postura apresentada
por entidades como as Nações Unidas e diferentes governos. Para auxiliá-los, foque
a conversa nas seguintes hipóteses e possibilidades:
Fracasso das políticas de combate e repressão atuais
Aumento do conhecimento científico sobre as drogas
Novas formas de tratamento e, no caso específico da maconha,
descobertas sobre seu uso medicinal e terapêutico (como no caso dos
medicamentos à base de canabidiol)
As oportunidades de um mercado regulado de entorpecentes: por
exemplo, para as empresas, novos públicos-alvo e nos produtos para
comercialização; para os governos, novas formas de arrecadação de impostos
Surgimento de movimentos sociais e manifestações de usuários de
maconha para uso recreativo e medicinal, que estimularam o debate público e a
visibilidade do tema
Lembre-se: não existe resposta certa ou simples para essa questão.
O objetivo é estimular a turma a pensar o problema por meio de novas
perspectivas, que extrapolem os argumentos morais e jurídicos que caracterizam
grande parte das argumentações existentes sobre o assunto. Para que o professor
se prepare para o debate, é indicada a leitura do artigo "Guerra às drogas", da revista
Superinteressante, e da entrevista com socióloga Julita Lemgruber, publicada na
reportagem "Legal e controlada", do jornal O
Estado de S. Paulo.
2ª etapa
Nesta etapa você irá discutir especificamente os movimentos sociais
associados com a descriminalização e regulação da maconha. O objetivo da
atividade é discutir as características e objetivos desse movimento social e
avaliar sua importância para a mudança da percepção da sociedade sobre o tema
da maconha. Para exemplificar e estimular o debate, utilize trechos
selecionados da "Carta de Princípios da Marcha da Maconha
Brasil", conforme abaixo. Se possível, utilize computador com
acesso à internet e projetor multimídia para apresentar os textos, ou distribua
cópias impressas para os alunos.
Texto 1 - Carta de princípios da Marcha da Maconha
A Marcha da Maconha Brasil é um movimento social, cultural e
político, cujo objetivo é levantar a proibição hoje vigente em nosso país em
relação ao plantio e consumo da cannabis, tanto para fins medicinais como
recreativos.
A Marcha da Maconha Brasil não tem posição sobre a legalização de
qualquer outra substância além da cannabis, a favor ou contra. O nosso objetivo
limita-se a promover o debate sobre a planta em questão e demonstrar para a
sociedade brasileira a inadequação de sua proibição.
Para atingir os seus objetivos, a Marcha da Maconha Brasil atuará
estritamente dentro da Constituição e das leis. Não abrimos mão da liberdade de
expressão, mas também não promovemos a desobediência a nenhuma lei.
Uma vez por ano, simultaneamente com o movimento internacional
Global Marijuana March*, a Marcha da Maconha Brasil organizará e convocará
manifestações públicas pela legalização da cannabis. Além disso, também poderão
ser organizadas outras atividades, tais como seminários, conferências e
debates, inclusive em colaboração com outros grupos e movimentos, nacionais e
estrangeiros.
*A Global Marijuana March é o movimento internacional da cultura
cannabista. Sua primeira grande manifestação foi uma marcha ocorrida em 1999,
em Nova Iorque.
O objetivo dessa etapa também é discutir as relações entre os
movimentos sociais e a sociedade, em um sentido mais amplo. Em outras palavras,
serão abordadas questões referentes ao papel dos movimentos sociais
contemporâneos para mudanças em comportamentos, valores e posturas da sociedade
brasileira. Para isso, inicie a etapa com uma rápida exposição baseada no texto
abaixo:
Texto 2 - Origem dos movimentos sociais
Na realidade histórica, os movimentos sempre existiram, e cremos
que sempre existirão. Isso porque representam forças sociais organizadas,
aglutinam as pessoas não como força-tarefa de ordem numérica, mas como campo de
atividades e experimentação social, e essas atividades são fontes geradoras de
criatividade e inovações socioculturais. A experiência da qual são portadores
não advém de forças congeladas do passado. A experiência recria-se
cotidianamente, na adversidade das situações que enfrentam. Os movimentos são o
coração, o pulsar da sociedade. Eles expressam energias de resistência ao velho
que oprime ou de construção do novo que liberte. Energias sociais antes
dispersas são canalizadas e potencializadas por meio de suas práticas em
'fazeres propositivos'. (adaptado de Maria da Glória Gohn, 2011)
Conduza um debate com o grande grupo. O que os alunos entendem como
"inovações socioculturais"? Como os movimentos sociais mencionados
nas etapas anteriores representaram esse tipo de mudança? O que os alunos
entendem por "fazeres propositivos"? Como se opõem a antigas práticas
sociais e culturais? Em outras palavras, como os movimentos sociais podem mudar
um determinado contexto social? É possível pensar em movimentos sociais
conservadores, que tentam manter a ordem atual?
De forma mais específica, procure indagar: quais as mudanças (ou
inovações) sociais e culturais relacionadas com os movimentos a favor da
descriminalização da maconha? Como eles podem conseguir essas mudanças? Quem
pode ajudá-lo? E supondo que os objetivos do movimento sejam atingidos, quais
os possíveis aspectos positivos e negativos dessas mudanças? Existem outras
formas de abordar o problema do consumo e tráfico de drogas?
Procure ressaltar que os movimentos sociais podem ser definidos
como um esforço coletivo e organizado, no sentido de promover mudanças sociais.
Movimentos sociais costumam partir da iniciativa da sociedade civil e são
distintos de organizações como partidos políticos. Instigue os alunos a
pensarem nos movimentos sociais não apenas como formas de dar visibilidade e
fomentar a discussão sobre um tema (por exemplo, a maconha), mas como formas de
pressão e reforma política, das leis, formas de comércio, etc. Por isso, podem
desagradar certas pessoas, grupos e setores da sociedade, gerando controvérsias,
debates e polêmicas.
3ª etapa
Tire um tempo para fazer uma breve revisão dos conteúdos abordados,
esclarecendo quaisquer dúvidas ou questionamentos da turma. Em seguida, para
concluir as atividades sobre os movimentos sociais, você irá conduzir um debate
entre os alunos. Essa atividade será utilizada como avaliação desta sequência
de aulas.
Para organizar o debate, divida a turma em três grupos. Dois grupos
irão representar movimentos sociais fictícios, um deles pró-legalização da
maconha e o outro, contrário. A tarefa dos participantes de cada um desses
grupos é elaborar argumentos e hipóteses que sustentem sua posição, bem como
formas pelas quais pretendem atingir seus objetivos (exemplos: manifestações,
pressão junto a representantes eleitos, etc...). Estimule-os a elaborar nomes
criativos e que representam as ideias abordadas!
O terceiro grupo fará o papel de mediar o debate, sistematizar os
argumentos apresentados e também propor formas de encaminhar essas hipotéticas
mudanças sociais. É recomendável que esse terceiro grupo seja composto por
menos alunos (três ou quatro alunos, no máximo).
(É preferível que você permita que os alunos se organizem em grupos
espontaneamente. No entanto, se necessário, você poderá determinar quais alunos
farão parte de cada grupo, de acordo com o perfil de cada estudante. Lembre a
turma que o objetivo da atividade é debater, argumentar e revisar algumas das
questões apresentadas nas aulas, não sendo obrigatório que elas reflitam a
opinião pessoal do aluno.)
Cada grupo terá alguns minutos para se preparar para o debate.
Nessa fase, os grupos "pró" e "contra" deverão sistematizar
os princípios, objetivos e formas de atuação de seu movimento social. Eles
também poderão tentar antecipar as ressalvas e questionamentos do grupo
adversário e do grupo de mediadores. Os mediadores poderão elaborar perguntas
para ambos os outros grupos. Durante essa fase, acompanhe cada um dos grupos,
dando sugestões e prestando esclarecimentos.
Alternativamente, você poderá permitir que os grupos se preparem em
casa ou na biblioteca, utilizando fontes de pesquisa como livros, revistas e
internet. Nesse caso, revise os conteúdos que serão utilizados previamente ao
debate.
No início do debate, cada grupo representando um "movimento
social" poderá fazer uma apresentação introdutória de até três minutos.
Nesta etapa, o grupo mediador poderá se encarregar de organizar a ordem e o
tempo de apresentação.
Em seguida, cada um dos "movimentos" poderá fazer até
três perguntas para o grupo adversário. As perguntas são livres, mas estimule
que os grupos se concentrem em perguntas que permitam entender os fundamentos e
ações propostas pelo grupo adversário, no sentido de saber "como eles
pretendem mudar a sociedade". O grupo mediador poderá fazer duas perguntas
para cada um dos "movimentos". Além disso, eles novamente se encarregarão
de cronometrar o tempo de cada resposta e a ordem geral do debate.
Conceda um tempo de dois minutos para considerações finais de cada
"movimento social". A seguir, dê algum tempo para o grupo mediador
decidir o resultado do debate e fazer considerações finais sobre as
apresentações, a clareza das ideias e a viabilidade geral das propostas.
Ao final do debate, retome a discussão com a classe inteira. Em
primeiro lugar, procure saber como eles se sentiram durante o debate, quais as
dificuldades encontradas para defender um ponto de vista e organizar um
movimento social, etc. Estimule-os a refletir sobre como essa atividade os
ajudou a compreender os demais movimentos sociais mencionados ou discutidos
durante as aulas.
Em segundo lugar, questione se é possível afirmar que movimentos
para a descriminalização e legalização da maconha estão mudando a percepção da
sociedade sobre o assunto. Quais outros fatores podem ser implicados na mudança
das práticas de combate às drogas? É possível afirmar que movimentos sociais organizados
podem causar mudanças sociais significativas, influenciando políticas públicas,
pesquisas científicas, etc.? O surgimento, amadurecimento e aceitação de
movimentos sociais relacionados ao tema das drogas representaria uma mudança na
percepção pública, em especial, da maconha?
Avaliação
Avalie os alunos de acordo com sua participação durante as aulas e
o debate. Mais especificamente, procure avaliar a compreensão dos conteúdos
abordados, a capacidade crítica e criatividade durante o debate.
Consultoria Maiko Rafael Spiess
Sociólogo, mestre e doutorando em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Sociólogo, mestre e doutorando em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/descriminalizacao-maconha-781667.shtml
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