sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Para que servem as leis?


Debata com a turma a necessidade e a origem das leis, como instrumento para regular a vida em sociedade

Objetivos
- Apresentar e discutir com os alunos algumas noções sobre as leis e seus papéis na sociedade
- Mostrar aos alunos a complexidade da questão, considerando como as concepções sobre as leis são alteradas ao longo da história e singularizadas por diferentes experiências culturais
- Discutir com os alunos alguns aspectos específicos de nossa sociedade

Conteúdos
- Lei e sociedade
- Lei e moral

Material necessário
Cópias da reportagem "Com as mãos no ouro" (Veja, 2333, 7 de agosto de 2013)

Tempo estimado                       Duas aulas

Introdução
O papel das leis é tema central das investigações sobre filosofia política. É importante entender tanto as diferentes concepções e justificativas da existência da legislação como sua complexa relação com a moral, informações reveladoras dos valores de determinado grupo social. Utilize a reportagem "É pior ainda" (Veja, 7 de agosto de 2013), que trata do aumento no número de mortes no trânsito, para discutir com a turma alguns aspectos sobre a formação das leis, buscando aproximar a discussão teórica de fatos recentes em nossa sociedade atual.

Leia mais
Como são feitas as leis?
Até que ponto as leis mudam a realidade?
Juca Gil comenta a formação das leis

Desenvolvimento
1ª etapa
Distribua cópias da reportagem de Veja para os alunos e determine um tempo para que a turma a leia. Em seguida, discuta o texto, perguntando o que compreenderam e, principalmente, como eles observaram a relação entre estabelecimento de leis e seu cumprimento.
Mostre que a legislação tem a função fundamental de regular as relações entre os indivíduos dentro da sociedade, definição dada em Aristóteles (384-322 a.C.). Para o autor, a finalidade da vida em sociedade é a eudaimonia, a felicidade, máxima realização daquilo que é o homem. Só é possível atingir esse fim vivendo em sociedade, na cidade (pólis), ou seja, na relação com o outro. Essa finalidade se aplica tanto ao indivíduo quanto à própria pólis. Dentro da sociedade há mecanismos, como as leis, para assegurar a boa relação entre as pessoas.
O objetivo do legislador ao elaborar as normas é incentivar ações que tornem virtuosos aqueles que as praticam. Assim, elas reforçariam aquilo que a moralidade, aparentemente, seria insuficiente para estabelecer nos homens. Coagindo os indivíduos a agirem de acordo com o que é moralmente bom, as leis teriam o papel de formar a virtude no homem em sociedade -- mesmo que isso seja possível sem elas, já que ela se baseia em decisões pessoas e racionais.
Por outro lado, a própria formulação da lei pressupõe sua transgressão. Isso quer dizer que a formulação de uma regra já assume a possibilidade de ela não ser cumprida, já que não faria sentido criar uma lei proibindo algo que jamais ocorreria. Também, o estabelecimento de normas assume a existência de um poder de coação para que sejam cumpridas, ou seja, não se espera adesão voluntária e irrestrita de todos os indivíduos.
Deixe claro para os alunos que essas formulações de Aristóteles não esgotam a questão. Mais do que isso, são apenas indicações de uma referência fundamental em relação a um problema muito amplo. Ao longo da história, o significado da lei e sua relação com a moral sofrerá alterações.
Uma visão muito diferente se vê no contratualismo moderno. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), por exemplo, acredita que antes da constituição da sociedade civil com suas leis, o homem vivia em um estado de natureza violento. Nessa situação, sem regras para controlar suas ações e orientado exclusivamente pelos interesses individuais, ele colocava em risco sua própria vida e a de seus iguais. Diante dessa situação, estabeleceu-se um contrato por meio do qual se forma a sociedade. O objetivo desse pacto seria controlar as ações dos indivíduos, impedindo que colocassem em risco suas vidas.
Depois da exposição, peça aos alunos que releiam em casa o texto da reportagem, agora tendo em vista o que foi discutido em sala de aula, e que escrevam uma curta e objetiva dissertação respondendo à pergunta: "O que pode levar uma pessoa à desobediência de leis?"

2ª etapa
Comece pedindo aos alunos que leiam as respostas escritas por eles para a questão colocada na aula anterior. Explique que a natureza do tema não permite uma resposta direta e única e que a discussão aberta dessas questões leva a sociedade a se constituir de forma viva.
Destaque que a reportagem relata uma situação complexa, em que a prática dos indivíduos tem regularmente colocado em risco suas vidas e as vidas de outros. Entretanto, encontramos aí o reflexo de uma sociedade violenta. Os próprios números sobre assassinatos comparados com os números de vítimas fatais no trânsito brasileiro mostram que a desobediência e a violência não são exclusividade do trânsito. Ainda assim, vê-se uma clara contraposição entre as normas e as decisões individuais, que levam ao desrespeito dos direitos dos outros. Discuta com a turma se o endurecimento de leis levaria a um melhor cumprimento delas. Estimule o debate perguntando problemas e vantagens envolvidos nessa situação.
Por fim, chame a atenção dos alunos para outro aspecto importante envolvido nesse tema. O apelo ao endurecimento de leis pode significar, por outro lado, uma restrição de direitos individuais. Isso não significa defender o direito ao descumprimento da lei, mas que ela deve ser formulada de maneira a não restringir direitos de quem não a descumpriria. Relembre-os também da possibilidade de existirem leis injustas e que, nesses casos, o descumprimento é um ato político, como nos movimentos de direitos civis americanos nos anos 60.
O tema em sua complexidade pode apontar para uma diversidade de perspectivas. O importante é convidar o aluno a considerar essas várias perspectivas e com isso assumir a necessidade do debate sobre essas questões.
Peça aos alunos que elaborem uma dissertação sobre o tema "A necessidade de leis para regular as relações entre os indivíduos em sociedade", na qual eles discutam os conteúdos trabalhados em sala de aula e seus próprios pontos de vista.

Avaliação
A avaliação deve ser feita pela consideração da participação dos alunos nos debates em sala de aula, e pela análise dos textos por eles elaborados. Nessa análise, considere como eles entenderam a relação entre lei e virtude e a complexidade da relação aí existente, bem como o papel das leis como reguladora das relações entre os indivíduos em sociedade.

Igor Silva Alves
Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP)

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