As principais dúvidas sobre Educação Sexual
O que falar sobre DSTs – de um jeito não chato
Estratégias para incentivar o uso da camisinha
Quatro tabus para derrubar ao falar sobre camisinha
Quando o tema é camisinha, a pergunta dos professores é
quase sempre a mesma: por que os jovens, mesmo sabendo dos riscos e com tanto
acesso à informação, não usam preservativo?
Esta questão também me intrigou durante muito tempo.
Mas a verdade é que eles usam – ou melhor, dizem usar, o que é uma grande
diferença… Ainda assim, essa é a população que mais utiliza a camisinha, se
compararmos aos indivíduos das demais faixas etárias, como aponta a última
Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas Sexuais, realizada pelo
Ministério da Saúde com pessoas de 15 a 64 anos de idade de todo o país.
(acesse a pesquisa completa aqui).
Em teoria, praticamente todos os jovens seriam adeptos
do sexo seguro. Nesta pesquisa, 97% dos entrevistados entre 15 e 24 anos
responderam que a camisinha é a melhor maneira de se prevenir contra a Aids e
outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Contudo, na prática, o
preservativo não entra na cama com naturalidade e a prova disso é que aumentou
o número de jovens que não usam preservativo durante as relações sexuais,
conforme indica a pesquisa Este
Jovem Brasileiro (acesse a pesquisa completa aqui).
Segundo esse levantamento, em 2006, 78% dos jovens
tinham usado camisinha na primeira relação sexual e 61% diziam usá-la sempre,
enquanto em 2013, esses números caíram para 71% e 54%, respectivamente. Quando
o relacionamento é com um parceiro fixo, a pesquisa do Ministério da Saúde
identificou que apenas 30% dos casais mantêm o uso da camisinha como um
comportamento de rotina em suas relações sexuais. E isso é muito preocupante!
Mas, voltando à pergunta inicial, hoje tenho uma
opinião formada sobre isso: usar a camisinha exige coragem! Pensando bem, é
mais do que isso. Usar camisinha significa um ato de “rebeldia responsável”
contra a nossa cultura e valores sexuais.
Acompanhem o meu pensamento… O simples ato de vestir o
preservativo, masculino ou feminino, envolve uma série de tabus, preconceitos e
julgamentos morais cultivados ao longo dos tempos nas sociedades e que podem
colocar em risco o relacionamento, a masculinidade e a honra de quem usa
camisinha. É por isso que eu faço questão de explorar neste post essas
dificuldades para que a gente entenda o lado do adolescente e possa encontrar
meios de fortalecer o seu comportamento responsável.
O que dificulta a prevenção
Uma pesquisa interessante (veja aqui) levantou alguns tabus muito difundidos e que quero detalhar para vocês.
1.
Sexo não é coisa de adolescente
Por que é um tabu: Apesar de tantas pesquisas
mostrarem que meninos e meninas iniciam sua vida sexual por volta dos 14 anos,
nós, adultos, ainda queremos acreditar que isso não seja verdade. O resultado
desse comportamento é a vergonha, medo e desconfiança por parte dos
adolescentes em pegar o preservativo no serviço de saúde ou mesmo comprá-lo na
farmácia, conforme citam 31,6% dos jovens entrevistados. Para eles, é
constrangedor perceber o olhar de reprovação do adulto. Isso quando não recebem
“conselhos” de profissionais de saúde para desencorajar a atividade sexual.
2.
Quem ama confia
Por que é um tabu: Este
valor, às vezes tão cultuado por alguns grupos, funciona como uma espécie de
sabotagem à prevenção. Isto fica bem evidente se observarmos que 40% dos jovens
ouvidos nesta pesquisa disseram não ser necessário usar o preservativo quando
se está em um relacionamento estável. Esse comportamento faz com que 33%
afirmem que desconfiariam do parceiro (de sua fidelidade ou de estarem
infectados por HIV ou outra DST), se ele ou ela pedissem para usar camisinha.
Destes, 20% ainda foram mais longe e disseram que ficariam com raiva caso
ouvissem essa proposta.
3.
Ser homem é correr riscos
Por que é um tabu: Esta
ideia faz parte da construção do que é ser masculino. Agora, imaginem um garoto
que não sabe como colocar a camisinha, ou ainda não adquiriu a habilidade para colocá-la, e que vai ter uma
relação sexual com uma garota que, em geral, pertence ao seu grupo de amigos.
Para manter sua imagem viril – e ocultar sua insegurança – ele irá preferir
arriscar e abrir mão da camisinha. Isso também explica o número elevado de
jovens que iniciam sua vida sexual sem fazer sexo seguro ou não usam
preservativos em todas as relações sexuais.
4.
Garota que carrega camisinha é “galinha”
Por que é um tabu: Embora
muitos jovens já concordem que as meninas também tenham o direito de solicitar
o uso do preservativo e tomar a iniciativa da prevenção, o preconceito sobre o
comportamento sexual feminino ainda é grande. Prova disso é que 50% dos
entrevistados ouvidos pela pesquisa disseram que uma garota que carrega
camisinha na bolsa não é uma “menina para casar”. Este julgamento moral é outro fator
que contribui para o descaso com a prevenção.
Esses dados revelam que o preconceito e alguns
comportamentos sociais mais arraigados em nossa sociedade representam grandes
barreiras ao sexo seguro, mesmo que exista amplo acesso à informação e aos
métodos preventivos. É importante que nós, educadores, estimulemos algumas
atitudes simples em nossos alunos por meio de conversas sobre essas questões.
Entre elas, há duas que quero compartilhar com vocês no próximo post: a habilidade do garoto e da garota para colocar a
camisinha e a conscientização de que quando se trata de DST/Aids, as mulheres, principalmente, não podem
se descuidar.
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