A história da
África em sala
Duas leis
federais determinam o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena.
Veja como trabalhar esses conteúdos em aula
Daniele Pechi (daniele.paula@fvc.org.br)
Fazer os
alunos refletirem sobre a diversidade é fundamental
Até bem pouco
tempo atrás, o Brasil, conhecido internacionalmente por sua diversidade
cultural e pela mistura de raças que formam o seu povo, não tinha as diferentes
etnias representadas nos currículos escolares do País. A situação mudou com
duas leis, sancionadas nos anos de 2003 e 2008, que tornaram obrigatório no
Ensino Fundamental e Médio o estudo da História e Cultura afro-brasileira e
indígena.
O que dizem as
leis
A lei mais
antiga 10.639/2003 não previa o ensino da cultura Indígena nas escolas
brasileiras. O texto estabelece que o conteúdo programático inclua diversos
aspectos da história e da cultura dos povos que formaram a população
brasileira. "As políticas e programas que começaram a ser praticados desde
então são fundamentais para valorizar a diversidade dentro das escolas e para
incentivar mudanças nas práticas pedagógicas", afirma Viviane Fernandes
Faria, Diretora de Políticas para Educação do Campo e Diversidade do Ministério
da Educação (MEC).
Aspectos como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional foram incorporados aos currículos depois da aprovação da Lei 11.645. "Por meio do resgate da contribuição de negros e índios nas áreas social, econômica e política da história do Brasil, os professores podem desenvolver ações voltadas para a construção de uma escola multirracial", diz Sobrinho.
Aspectos como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional foram incorporados aos currículos depois da aprovação da Lei 11.645. "Por meio do resgate da contribuição de negros e índios nas áreas social, econômica e política da história do Brasil, os professores podem desenvolver ações voltadas para a construção de uma escola multirracial", diz Sobrinho.
A proposta do
MEC é incluir no currículo temáticas que façam os alunos refletir sobre a
democracia racial e a formação cultural brasileira. "Só assim será
possível romper com teorias racistas e diminuir o preconceito", afirma
Juliano Custódio Sobrinho, professor de História da Universidade Nove de Julho,
em São Paulo. "Os educadores têm um papel fundamental nesse processo, o de
mostrar aos alunos que todas as raças presentes no Brasil têm e tiveram
importâncias iguais na formação da cultura brasileira", diz.
Como trabalhar
Para ajudar os
professores a selecionar alguns aspectos que podem ser trabalhados nas
diferentes etapas de ensino no decorrer de todo o ano, o MEC elaborou alguns materiais de apoio que
estão disponíveis para consulta no site oficial do Ministério, assim como as
Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais.
Abaixo, veja algumas sugestões de como e quando abordar alguns dos conteúdos relacionados à cultura afro-brasileira em diferentes etapas de ensino:
Abaixo, veja algumas sugestões de como e quando abordar alguns dos conteúdos relacionados à cultura afro-brasileira em diferentes etapas de ensino:
Educação Infantil
O essencial:
Apresentar a diversidade
Durante o
período em que frequentam a creche ou a pré-escola, as crianças estão
construindo suas identidades. Por isso, desde os primeiros anos de
escolaridade, os alunos já precisam entender que são diferentes uns dos outros
e que essa diversidade decorre de uma ideia de complementaridade. "É
função do educador ajudar as crianças a lidar com elas mesmas e fortalecer a
formação de suas próprias identidades", explica Clélia Cortez,
Coordenadora do Programa Formar em Rede do Instituto Avisa Lá e selecionadora
do Prêmio Victor Civita. "Ele deve atuar como um verdadeiro agente de
promoção da diversidade", diz.
Para que isso
aconteça, a creche precisa ser transformada em um ambiente de aprendizagem da
diversidade étnico-racial, que estimule os pequenos a buscar suas próprias
histórias e a conhecer as origens dos colegas. "Estimular a participação
das crianças em atividades que envolvam brincadeiras, jogos e canções que
remetam às tradições culturais de suas comunidades e de outros grupos são boas
estratégias", diz Clélia. Segundo a educadora, a organização os espaços
também deve valorizar a diversidade. Ações simples como pendurar imagens de
personagens negros nas paredes, adquirir alguns livros com personagens de
origens africanas, ter bonecos negros na brinquedoteca e passar filmes infantis
com personagens negros para as crianças podem ajudar na formação de cidadãos
mais conscientes e agentes no combate ao preconceito.
Do 1º ao 5º ano
O essencial:
valorizar as culturas indígena e africana
No Ensino
Fundamental 1, os professores já podem levar para a sala de aula algumas noções
do que vem a ser a cultura afro-brasileira, com base na realidade dos alunos. É
o momento de falar sobre a colonização portuguesa no país e traçar um paralelo
com a realidade social dos negros hoje. "Se o aluno entender o processo
histórico que desencadeou a desigualdade entre negros e brancos, ele não vai
reforçar preconceitos", diz Sobrinho.
Propor projetos e atividades permanentes que valorizem as culturas indígena e africana - como apresentações teatrais de histórias da literatura africana ou lendas indígenas -; trabalhar os elementos de ritmos como o samba e o maracatu nas aulas de Música; ou explorar alguns elementos da capoeira nas aulas de Educação Física são boas formas de abordar os conteúdos no decorrer do ano. "Apesar da inclusão do ensino da cultura afro-brasileira e indígena ter sido imposta por uma legislação, não é preciso forçar a barra para incluí-los nas aulas", explica Sobrinho. "Esses elementos sempre fizeram parte da cultura brasileira e não podem ser ensinados como se fossem conteúdos à parte, descontextualizado da realidade do nosso país", afirma ele.
Propor projetos e atividades permanentes que valorizem as culturas indígena e africana - como apresentações teatrais de histórias da literatura africana ou lendas indígenas -; trabalhar os elementos de ritmos como o samba e o maracatu nas aulas de Música; ou explorar alguns elementos da capoeira nas aulas de Educação Física são boas formas de abordar os conteúdos no decorrer do ano. "Apesar da inclusão do ensino da cultura afro-brasileira e indígena ter sido imposta por uma legislação, não é preciso forçar a barra para incluí-los nas aulas", explica Sobrinho. "Esses elementos sempre fizeram parte da cultura brasileira e não podem ser ensinados como se fossem conteúdos à parte, descontextualizado da realidade do nosso país", afirma ele.
Do 6º ao 9º ano
O essencial:
discutir o preconceito
O Ensino
Fundamental 2 é o período ideal para o professor explicar aos alunos que o
Brasil foi um país escravocrata e que a abolição da escravidão não veio
acompanhada de um processo de inclusão dos negros na sociedade brasileira.
"No Brasil, a escravidão foi abolida em 1888, porém, mantivemos o estigma
da cor", afirma Sobrinho. Por isso, promover debates sobre as causas do
preconceito contra os negros é fundamental, bem como ensinar os alunos a buscar
respostas no processo histórico brasileiro. "Os estudantes precisam
conhecer os motivos pelos quais os negros ainda lutam pela igualdade de
direitos e oportunidades", diz Sobrinho.
Nas aulas de Ciências, os professores podem trabalhar as teorias raciais do século 19, que queriam acabar com a miscigenação e pregavam a necessidade do branqueamento da população. "A ideia errônea da existência de uma raça pura permitiu a legitimação do preconceito com relação à diversidade de raças e a crença em uma suposta superioridade da raça branca", diz Sobrinho.
Nas aulas de Ciências, os professores podem trabalhar as teorias raciais do século 19, que queriam acabar com a miscigenação e pregavam a necessidade do branqueamento da população. "A ideia errônea da existência de uma raça pura permitiu a legitimação do preconceito com relação à diversidade de raças e a crença em uma suposta superioridade da raça branca", diz Sobrinho.
Ensino Médio
O essencial:
debater o preconceito de raça
Nesta etapa os
professores de Sociologia podem trabalhar o próprio conceito de
"raça", sempre com o objetivo de discutir a valorização das
diferentes manifestações culturais com base nas representações do outro. A
existência de cotas raciais nas universidades públicas e os motivos pelos quais
elas se fazem necessárias no Brasil também podem gerar debates interessantes
com a turma. É uma boa oportunidade para esclarecer aos estudantes que as
cotas, por exemplo, fazem parte de um longo plano de ações que visa incluir os
negros dignamente na sociedade.
Muito mais do
que leis que incentivem o combate ao preconceito racial, é fundamental que as
mudanças da forma de ensinar a História e a Cultura afro-brasileira e indígena
partam do engajamento, do aprendizado e do comprometimento pessoal dos
educadores, professores e gestores escolares, que devem estar preocupados em
construir uma política educacional igualitária, que prepare crianças e jovens
para valorizar a diversidade e construir uma sociedade em que a democracia
racial, de fato, se torne uma realidade.
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/brasil-pais-todas-cores-643758.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário