Coronelismo: os segredos por trás da enxada e do voto
Objetivo(s)
Conhecer e refletir sobre
os chamados "coronéis" do nordeste e seu poder político no início do século 20.
Conteúdo(s)
História do Brasil
Primeira República
Coronelismo
Ano(s) 1º 2º 3º
Tempo estimado 1 aula
Material necessário
·
Cópias do artigo “Bolsa Família:
voto racional, e não
de cabresto” (Veja 2401, 26 de novembro de 2014) (http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx?edicao=2401&pg=24
)
·
Cópias da reportagem "Parada
no Tempo" (Veja, 2317, 17 de abril de 2013) (http://veja.abril.com.br/acervodigital/
)
·
Trecho do livro "Coronelismo, Enxada e
Voto" de Victor Nunes Leal. (P. 43-44)
·
Trecho do filme "Gabriela, Cravo e
Canela" (Bruno Barreto, 1983). De
55:29min a 1:00:28s. Disponível no You Tube . (https://www.youtube.com/watch?v=3pK1YBAQpmY
)
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
O Brasil vive em regime de
República desde 1889. Periodicamente, vamos às urnas escolher nossos representantes nos poderes Executivo e
Legislativo. No início da implantação desse sistema de votos,
quando a escolha dos candidatos era feita de maneira aberta, os coronéis regionais tinham papel fundamental no resultado das eleições. Ganhava o político que tinha mais amigos poderosos, que
pressionavam seus “currais eleitorais” a votarem no candidato indicado por eles.
Atualmente, muito se
discute sobre os programas de governo que criam uma rede de eleitores fiéis e dependentes, comparando-os com os votos de cabresto da República Velha.
No artigo “Bolsa Família:
voto racional, e não
de cabresto” (Veja 2401, 26 de novembro de 2014), o colunista Maílson da Nóbrega não considera que os beneficiários do Bolsa Família têm uma relação de “cabresto” com o atual governo, e explica por que. Leia o
artigo e reflita com sua turma sobre o período do Coronelismo na história do Brasil com o plano de aula a seguir.
Atividades
1ª etapa
Inicie esta etapa de trabalho comentando com os alunos que o termo
"Coronelismo" é muito recorrente na história da república brasileira e na política. Pergunte à turma qual é o significado da expressão e anote as respostas no quadro.
Explique aos alunos que o
termo "Coronelismo" remete a um momento anterior à República. Quando Dom Pedro I deixou o reinado, em
1831, foi criada a Guarda Nacional, criando um coronelismo institucional. Na
ocasião, as patentes militares foram colocadas à venda pelo governo regencial que comandou o Brasil até 1842. Os homens mais ricos, grandes proprietários de terra, em geral, puderam comprar títulos de tenente, capitão, major, tenente-coronel e de coronel da Guarda Nacional, que era o
mais importante de todos.
Apesar da origem do termo ainda no período imperial, foi na República que ele ganhou mais representatividade no cotidiano do povo brasileiro e passou a conceder poderes maiores ao portador do título. Os coronéis da Primeira República eram grandes latifundiários e, eventualmente, comerciantes enriquecidos, que gozavam de grande poder e de muitos privilégios sobre a população brasileira. O grande diferencial do poder dos coronéis era a capacidade de determinar em quem os eleitores votariam. A expressão "voto de cabresto" é relativa a esse período da história do Brasil, pois o voto não era secreto e os jagunços dos coronéis utilizavam de punição física caso algum eleitor se manifestasse contra os interesses do mandatário local. Verifique se os alunos conhecem histórias similares nos dias atuais e incentive que eles façam o relato.
Apesar da origem do termo ainda no período imperial, foi na República que ele ganhou mais representatividade no cotidiano do povo brasileiro e passou a conceder poderes maiores ao portador do título. Os coronéis da Primeira República eram grandes latifundiários e, eventualmente, comerciantes enriquecidos, que gozavam de grande poder e de muitos privilégios sobre a população brasileira. O grande diferencial do poder dos coronéis era a capacidade de determinar em quem os eleitores votariam. A expressão "voto de cabresto" é relativa a esse período da história do Brasil, pois o voto não era secreto e os jagunços dos coronéis utilizavam de punição física caso algum eleitor se manifestasse contra os interesses do mandatário local. Verifique se os alunos conhecem histórias similares nos dias atuais e incentive que eles façam o relato.
2ª etapa
Após introduzir o conceito de "Coronelismo" e de identificar seu
momento histórico de maior influência, leia com a turma a
passagem a seguir do clássico livro de Victor Nunes Leal chamado
"Coronelismo, Enxada e Voto", disponível na internet, como auxílio para explorar outros elementos.
Coronelismo, Enxada e Voto
O fenômeno de imediata observação para quem procure
conhecer a vida política no interior do Brasil é o malsinado "coronelismo". Não é um fenômeno simples, pois envolve um complexo de
características da política municipal [...]. Como
indicação introdutória, devemos notar, desde logo, que concebemos o
"coronelismo" como resultado da superposição de formas desenvolvidas
do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada.
Não é, pois, mera sobrevivência do poder privado, cuja hipertrofia constitui
fenômeno típico de nossa história colonial. É antes uma forma peculiar
de manifestação do poder privado, ou
seja, uma adaptação em virtude da qual os
resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado
têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.
Por isso mesmo, o
¿coronelismo¿ é, sobretudo, um compromisso, uma troca de
proveitos entre o poder público, progressivamente
fortalecido, e a decadente influência social dos chefes
locais, notadamente dos senhores de terras. Não é possível, pois, compreender o
fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece base de sustentação das manifestações de poder privado ainda
tão visíveis no interior do
Brasil.
Paradoxalmente,
entretanto, esses remanescentes de privatismo são alimentados pelo poder
público, e isso se explica justamente em função do regime
representativo, com sufrágio amplo pois o governo
não pode prescindir do eleitorado rural, cuja situação de dependência ainda é incontestável. Desse compromisso fundamental resultam as
características secundárias do sistema
coronelista, como sejam, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o
falseamento do voto, a desorganização dos serviços públicos locais."
Victor Nunes Leal (P. 43-44)
Antes de orientar a
discussão, pergunte à turma o que foi
entendido com o texto e estimule um debate com fins de definição do coronelismo.
Explique alguns pontos que são importantes para
compreensão do fenômeno. O coronelismo é uma manifestação diferenciada do poder
privado em meio a um regime político de base
representativa.
A ligação com o poder público foi feita através de um compromisso que estabeleceu trocas de
favores. A força dos coronéis prestava grande favor
ao presidente, preparando seu sucessor, e aos deputados, fornecendo-lhes
votos e a permanência no poder político. Ou seja, uma
completa interferência e manipulação dos votos, já que os coronéis obrigavam a população a votar nos candidatos
que escolhiam.
O poder do coronel estava
muito relacionado à distribuição populacional em regiões rurais do território brasileiro. Nesse
contexto, o coronel era uma figura local de grande influência sobre os moradores de cidades menores, de
regiões mais afastadas e de suas imediações. Os coronéis dominavam funções como de policiamento e
de justiça que deveriam ser de autoridade do Estado nessas
regiões. Submetendo, inclusive, delegados, juízes e prefeitos. Quanto mais terra possuísse, maior era seu poder, pois mais pessoas
dependiam dele.
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3ª etapa
Nesta etapa, após verificar o que os alunos apreenderam sobre o conceito de
"Coronelismo", utilize a obra de Jorge Amado para ilustrar o tema em
uma aula expositiva.
É importante que o professor saiba que com a transferência da capital brasileira para a cidade do Rio de Janeiro e em função do crescimento econômico do sudeste em torno do
café, o nordeste do país, que já era predominantemente rural, assumiu, mais ainda, esta característica de domínio dos coronéis. Esses tipos estavam
espalhados pelos municípios nordestinos, mas nem todos eram amigos ou
tinham o mesmo poder. Inclusive, havia muita disputa pelo poder. O coronel mais
poderoso e violento se impunha. Assim, estabelecia alianças com outros fazendeiros e decidia pelo candidato que queria para
governador do estado.
O famoso escritor baiano Jorge Amado retratou o cenário nordestino dominado por coronéis em seus romances, demonstrando o poder e a disputa constante que acontecia entre os grandes proprietários de terra. Exiba em sala o trecho indicado do filme "Gabriela, Cravo e Canela" de 1983.
O famoso escritor baiano Jorge Amado retratou o cenário nordestino dominado por coronéis em seus romances, demonstrando o poder e a disputa constante que acontecia entre os grandes proprietários de terra. Exiba em sala o trecho indicado do filme "Gabriela, Cravo e Canela" de 1983.
Procure mostrar a cena que retrata a disputa política entre coronéis e o uso da violência expressada através de seus jagunços. Tais características eram recorrentes no
nordeste. O poder econômico dos coronéis, expresso através de suas propriedades rurais, refletia em poderes políticos muito maiores.
A união desses dois elementos fez com que coronéis permanecessem no comando
de regiões rurais por muito tempo, gerando famílias influentes na política nordestina. O cenário só mudou com a dinamização da economia e a
progressiva urbanização de certas regiões, situações que criaram postos de trabalho desvinculados da terra e do poder dos
coronéis. Ainda assim, muito embora o poderio extremo dos
coronéis no início do século XX tenha caído, algumas famílias de grandes proprietários de terras são predominantes na política nordestina e ainda desfrutam de certos privilégios e poder. Para ilustrar essa explicação solicite que os alunos leiam a reportagem "Parada no Tempo"
de Veja. Em seguida, exiba o vídeo "Cultura Retrô - Coronelismo" de 5 minutos dísponivel no You Tube. O vídeo faz uma síntese do assunto e o liga
aos dias atuais.
Avaliação
Após acrescentar os dois vídeos à explicação, peça à turma que faça uma dissertação explicando o que é o coronelismo, quem eram os coronéis, a origem do poder deles
e o reflexo do poder econômico no poder político. Solicite que o texto
faça uma correlação do poder dos proprietários de terra no nordeste no início da República com os dias atuais e utilize pelo menos uma das fontes usada em
sala de aula e outra fonte livre confiável que o aluno deve
pesquisar na internet. Verifique por meio da dissertação e da participação nas aulas se a turma compreendeu o termo
coronelismo e a ligação entre propriedades rurais com poder político no debate realizado sobre o texto de Victor Nunes Leal.
http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/coronelismo-os-segredos-por-tras-da-enxada-e-do-voto
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