Violência contra a mulher: quem ama não maltrata
Sete em cada dez
mulheres sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo de suas vidas,
segundo a Organização das Nações
Unidas (ONU). Diferentemente do que se pode imaginar, a
violência de gênero, não é exclusiva dos adultos. Estudos do Banco Mundial
mostram que é muito mais provável, em todo o mundo, uma mulher entre 15 e 44
anos sofrer esse tipo de violência do que de ter câncer, malária, ou se
envolver em acidentes de trânsito.
A violência contra
mulher origina-se na desigualdade de gêneros,
de que tratei na semana passada. A ideia machista de que as mulheres
são seres com menos direitos fundamentaria a submissão delas às vontades e
desejos dos homens. Infelizmente, este debate é mais atual do que nunca. Nesta
semana, uma petição ganhou notoriedade na internet ao
pedir que a Polícia Federal brasileira negue a entrada do suiço Julien
Blanc, que vem ao Brasil em 2015 para ministrar palestras sobre “como
pegar mulheres”. Apertar os pescoços das mulheres ou colocar seus rostos
à força em direção à virilha dele são algumas das “táticas” ensinadas. É por
essas e tantas outras razões que esse tema precisa ser abordado na Educação
Sexual.
Tudo pode começar de
forma muito sutil: o namorado demonstra ciúmes, marca em cima… São
atitudes que aos olhos de quem está apaixonada podem parecer grosserias à toa
ou até mesmo provas de amor. Até que um dia ele puxa o braço da garota com mais
força e a machuca. Será que a menina não precisa ficar esperta e cair fora
desse relacionamento?
Se uma aluna chega à
escola com uma mancha roxa no braço, o educador deve intervir e conversar em
particular com a aluna para descobrir o que houve e, caso se confirme a
violência, analisar juntos os prós e contras desse relacionamento e como a
menina pode buscar ajuda. A Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres colocou
à disposição da população um canal de telefone para denunciar a
violência doméstica e receber atendimento -número
é o 180.
No entanto, mais
importante do que oferecer assistência às alunas que sofrem esse tipo de
violência é fazer um trabalho de prevenção com todos os alunos, meninas e
meninos. Não precisamos esperar acontecer uma tragédia para trazer esse tema à
sala de aula. É fundamental que os alunos entendam que quem ama não maltrata.
Meninos e meninas
precisam saber que ninguém é propriedade de ninguém. Nós estamos em pleno
século 21, a mulher já conquistou vários direitos, entre eles o de não ser
tratada como propriedade de alguém. É inadmissível que em nome do amor, ou
desse sentimento de propriedade, um homem agrida uma mulher. Desde 2010 a Lei Maria da Penha garante esse direito às mulheres. Isso
precisa ser divulgado, trabalhado e analisado desde a adolescência.
Lei Maria da Penha
Essa lei homenageia
a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes,
que ficou paraplégica depois de levar um tiro do próprio marido enquanto dormia
e conseguiu, depois de lutar por 20 anos, que ele fosse condenado. Além de
criar em todos os estados um juizado especial de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, a Lei Maria da Penha alterou o Código Penal, permitindo,
principalmente, que agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão
preventiva decretada. A lei também traz uma série de medidas para proteger a
mulher agredida, que está em situação de agressão ou cuja vida corre riscos.
Essa lei protege as mulheres em relacionamentos estáveis ou eventuais, como o
namoro e o ficar.
Sugestão de trabalho
na sala de aula
1a etapa
Inicie o trabalho
dizendo aos alunos que fará um trabalho muito especial para ambos os sexos,
embora aparentemente, pareça favorecer apenas as mulheres. E anuncie o tema:
violência contra a mulher.
Pergunte se eles já
ouviram falar de alguma situação em que essa violência aconteceu, e pede que
contem as formas de violência de que já ouviram falar.
Em seguida,
complemente que as formas de violência mais comuns variam da agressão física
mais branda (tapas e empurrões), seguida
pela violência psíquica (xingamentos,
ofensas à conduta moral da mulher) e a ameaça (coisas quebradas, roupas rasgadas, objetos atirados e outras formas indiretas de
agressão).
2a etapa
Divida os alunos em
quatro grupos, distribua uma folha de papel sulfite para cada e peça que eles
criem uma história sobre uma situação que eles julguem ter havido uma violência
por parte do namorado contra sua namorada, relatando o contexto em que tudo
aconteceu.
Em seguida, recolha
as histórias e passe para o grupo seguinte, de tal forma que nenhum grupo fique
com sua própria história. Diga aos alunos que eles serão advogados e receberão
o caso para analisar e julgar se houve uma violência contra a mulher e quais as
medidas que deveriam ser tomadas.
3a etapa
Depois que o
trabalho estiver pronto, os grupos devem apresentar para a classe. Faça as
complementações necessárias para a compreensão de que essas atitudes são
consideradas crime e então apresente a Lei Maria da Penha. Mostre aos alunos
que, além de não praticarem essa violência, é muito importante que os meninos
se unam às meninas para apoiá-las na prevenção dessas situações.. E que as
meninas precisam aprender a não serem condescendentes.
Explique que quando
a garota perceber que está sendo agredida, mesmo que seja um “mau jeito”, ela
não deve aceitar e precisa fazer algo a respeito. Qualquer tipo de violência
deve ser repudiado! Ninguém deve aceitar ou tentar justificar o ato do
outro que lhe traz dor, sofrimento ou constrangimento. Muito menos,
quando isso ocorre por que o homem quer demonstrar sua superioridade.
Várias culturas
estimulam e confirmam essa violência no seu dia a dia como uma forma natural de
comportamento, o que torna mais difícil o seu combate e a gravidade deste
problema. Alerte suas alunas! Diga claramente e sem medo para elas: isto não é
amor, é violação dos direitos humanos.
http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2014/11/13/violencia-contra-a-mulher-quem-ama-nao-maltrata/
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