Como falar sobre aborto com os alunos?
Ao ser questionado sobre aborto, o educador deve procurar descobrir
qual é a real motivação da pergunta
Há algum tempo, uma professora me contou que uma vez havia sido
questionada por uma aluna sobre sua opinião em relação ao aborto. No momento
ela desconversou, mas depois, preocupada, me procurou para saber como proceder.
Uma pergunta como essa dificilmente ocorre fora de contexto, apenas
por curiosidade. Por isso, é muito importante acolher a aluna e buscar
descobrir a verdadeira intenção da pergunta. Às vezes, pode haver um problema
por trás dessa curiosidade aparentemente despretensiosa, como a gravidez da
garota ou de uma amiga que ela esteja tentando ajudar.
Por isso, a orientei a perguntar para a garota “por quê” ela queria ouvir sua opinião. Dessa
forma, é possível se aproximar da verdadeira intenção da pergunta e perceber
que a resposta mais adequada, não é a posição pessoal sobre o aborto, mas sim,
fornecer informações que mostrem os prós e os contras sobre o tema.
Aborto é um assunto extremamente polêmico e cheio de armadilhas. A
legislação brasileira o permite somente em casos de estupro, de gravidez com
risco à vida da mãe ou se o feto for anencefálico (uma má-formação rara
do tubo neural caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da
calota craniana). Em qualquer outra circunstância, a interrupção da gravidez é
proibida no país. Mas não podemos fingir que isso não acontece.
Cálculos do Ministério da Saúde revelam que 3,7 milhões de mulheres
entre 15 e 49 anos induziram aborto – 7,2% do total de mulheres em idade
reprodutiva. Isso faz do aborto a quarta maior causa de óbito materno no
país, vitimando 9,4 de cada 100 mil gestantes, especialmente as de menor poder
econômico.
As mulheres decidem interromper a gravidez hoje, decidiram ontem e
vão decidir sempre. Mesmo que o custo dessa decisão traga risco de morte. E
isso é sério! Contudo, ainda estamos longe de uma solução definitiva para essa
questão. Enquanto para os favoráveis à proposta, o aborto é um direito da
mulher; os contrários defendem que o feto não é parte do corpo dela, mas sim
outro organismo que depende temporariamente do útero da mãe para se
desenvolver. Abortar, portanto, seria cometer um crime. E isso nos leva
necessariamente para o foco da polêmica: o conceito de vida humana.
Quando começa a vida?
A questão fundamental do aborto está no conceito de vida. E é aí
que a coisa complica.
De forma sucinta, podemos dizer que há quatro diferentes
interpretações para o fenômeno. Há o grupo que defende que a vida surge no
momento da fertilização do óvulo.
Outros acreditam que o marco inicial da vida é a implantação do óvulo fecundado
no útero, chamada cientificamente denidação. Um terceiro grupo afirma que a
vida se inicia a partir do momento em que o feto começa a ter atividade cerebral. E, por fim, há o
grupo baseado na postura filosófica existencialista, segundo a qual só há vida
quando a pessoa se põe no mundo e toma consciência
de sua existência.
Como se vê, da fecundação ao nascimento, não há um instante
biológico privilegiado, com o qual todos concordem. Na maioria dos países em
que o aborto é permitido, o prazo limite para a interrupção da gestação é
definido pelo conceito da viabilidade, ou seja, o momento a partir do qual o
feto, com o auxílio de aparato médico, é capaz de viver fora do útero. Isso
geralmente se dá por volta da 24ª semana de gestação.
Promova um debate com a turma
Essa polêmica não é nova, e vale a pena ser debatida em sala de
aula. Nosso papel como educadores é incentivar o conhecimento e ajudar os
alunos a interpretarem os fatos para poderem formar suas opiniões de acordo com
suas visões de mundo. Para isso, sugiro a seguir um breve encaminhamento do
assunto com a turma:
1a etapa
Inicie a conversa mostrando que gerar uma vida é da natureza da
mulher e do homem, mas ser mãe ou pai pode ser uma escolha. Para isso, o melhor
caminho é usar os métodos contraceptivos para prevenir a gravidez.
Infelizmente, nem todo mundo tem informação adequada e motivação para se
prevenir, ou acesso a métodos contraceptivos, o que leva muitas mulheres a se
depararem com o dilema de interromper ou continuar a gravidez. Problematize o
assunto com a turma perguntando: O aborto pode ser uma solução menos penosa
entre duas alternativas difíceis? Ou a lei deve permanecer como está?
2ª etapa
Divida os alunos em grupo e peça para pesquisarem os argumentos a
favor e contra a legalização do aborto. Depois, peça que cada grupo apresente
suas considerações e conclusões. O professor pode sistematizar no quadro os
principais argumentos e instigar os alunos a defendê-los ou refutá-los.
Você já abordou esse assunto com seus alunos? Quais foram as
questões levantadas por eles?
Até a próxima!
http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2014/06/26/como-falar-sobre-aborto-com-os-alunos/
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