É possível aliar desenvolvimento e preservação?
Problematize as consequências da expansão do
agronegócio e da instalação de polos industriais em regiões de ecossistemas
ameaçados
Conteúdos
- A gênese
geoeconômica do território brasileiro
- O Brasil no
sistema internacional: mercados internacionais e agenda externa brasileira
Objetivos
- Examinar
processos de expansão da fronteira agropecuária na Amazônia e avaliar seus impactos
- Ler e
interpretar mapas e gráficos para extrair informações que permitam identificar
singularidades e distinções acerca da participação do Brasil e de outros países
no comércio internacional
Materiais necessários
- Cópias das
reportagens "A floresta vira soja" e "Nossas vitórias
internacionais" (Veja 2382, de 16 de julho de 2014)
- Computadores
com acesso à internet
Introdução
No início de
março de 2008, os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, divulgaram uma nota conjunta
defendendo ações enérgicas que coloquem um freio ao desmatamento no país. A
declaração, motivada por um projeto em debate na Câmara dos Deputados que
pretende flexibilizar o Código Florestal, é mais uma tentativa de resolver a
difícil equação entre atividades econômicas e preservação do meio ambiente em
especial, quando a área em foco é a Amazônia. VEJA aborda essa questão em duas
reportagens, destacando o desmatamento em Mato Grosso e em São Félix do Xingu
(PA), município campeão na devastação de matas. Desde os anos 1960, 700 mil km2
de florestas foram retirados na Amazônia, sendo 100 mil km2 somente nos últimos
cinco anos, área equivalente ao território de Portugal. Convide a turma a
explorar esse tema de grande importância, não só para os dias de hoje, mas,
principalmente, para o futuro.
Desenvolvimento
1ª etapa
Após a leitura
de VEJA, peça que os estudantes organizem os dados apresentados. Em seguida,
lance questões para debate: quais são as áreas em que o desmatamento é crítico?
O que o país perde e ganha com o avanço da pecuária e da agricultura sobre a
floresta? Que medidas podem ser tomadas para que essas regiões se beneficiem
com desenvolvimento econômico que esses empreendimentos podem trazer sem
degradar o meio ambiente?
Acrescente
algumas informações: 17% da cobertura original da Amazônia já não existe mais.
Dos 83% restantes, uma parte importante está afetada pela retirada de espécies
nobres de árvores, por clareiras e pelo comprometimento dos recursos hídricos,
que não aparece em imagens de satélite. Segundo cálculos do Instituto do Homem
e do Meio Ambiente da Amazônia, entidade da sociedade civil que monitora o
desmatamento na região, apenas 43% da mata permanece intacta.
Explique que o
desmatamento não se dá de uma só vez. Estradas oficiais ou clandestinas
permitem o acesso a áreas ainda inexploradas e a ocupação, muitas vezes
irregular. Esses primeiros núcleos convertem-se em bolsões de agricultura de
pequena escala, extração de madeira e pecuária extensiva. No passo seguinte, as
pastagens cedem espaços para a entrada da agricultura moderna, mecanizada e
baseada em cultivos de exportação (soja à frente). Isso tem servido de
argumento para agricultores capitalizados, que alegam expandir os cultivos
apenas para áreas já desmatadas. Na verdade, muitos deles integram o mesmo
círculo vicioso, trazendo ganhos de curto prazo para madeireiros, pecuaristas e
empresários do agronegócio.
Em
contrapartida, como mostrado na reportagem "Nossas vitórias
internacionais", muito municípios vêm se beneficiando com o investimento
maciço na criação de polos industriais e no desenvolvimento agrícola com o
emprego de tecnologia de ponta. De acordo com a reportagem, essas cidades se
transformaram em "ilhas de exceção", que competem no comércio mundial
com as nações desenvolvidas, tendo superado os entraves de infraestrutura, tecnologia
e mão de obra e elevando a qualidade de vida de seus habitantes. Utilize essa
dicotomia entre, de um lado, as inegáveis vantagens trazidas pelo progresso
econômico registradas nas cidades em que esse processo se deu de maneira
aparentemente sustentável e, de outro, a desmedida busca por lucros e a ação
muitas vezes à margem da lei empregada pelos empresários do agronegócio que
atuam na região amazônica para promover um debate com a turma sobre como, ao
mesmo tempo, estimular o desenvolvimento econômico e não degradar o meio
ambiente. Use algumas questões para estimular a reflexão da turma: Quais
medidas o governo pode tomar para estimular o desenvolvimento econômico? E para
coibir o desmatamento ilegal? É possível conciliar essas duas perspectivas?
Além da esfera estatal, existem outras instâncias que podem atuar nessa
questão? Exigir contrapartidas, como reflorestamento, redução da emissão de
poluentes e desenvolvimento de projetos de sustentabilidade das empresas pode
ajudar a solucionar esse problema? Sistematize as respostas da turma no quadro
e avise que os pontos levantados na discussão deverão ser utilizados na
atividade final.
2ª etapa
Reproduza os
mapas deste plano de aula e distribua à moçada. O quadro 1 mostra o chamado
arco do desmatamento da Amazônia, onde se concentra a retirada da mata e de
outras coberturas vegetais. Seus limites envolvem o oeste e sudoeste do
Maranhão, norte do Tocantins, uma larga faixa oriental do Pará, norte de Mato
Grosso, sul do Amazonas, Rondônia e frações do território do Acre. No Pará,
abre-se uma cunha de ocupação ao longo da BR-163 (Cuiabá Santarém) e outra na
BR-364 (Cuiabá Porto Velho). Segundo o IBGE, no estudo Mapas Integrados da
Amazônia Legal, publicado em 2007, a consolidação da ocupação produtiva dos cerrados
do Centro-Oeste nos anos 1990, passou a pressionar de forma mais direta as
áreas de floresta e outras coberturas da região. A coletânea inclui também o
zoneamento ecológico-econômico, que oferece subsídios para o desenvolvimento da
Amazônia em bases mais sustentáveis.
Ressalte que o
processo de modernização agropecuária no Brasil permitiu a criação de
tecnologias de correção de solo, pesquisas de novas espécies e a introdução de
máquinas e defensivos agrícolas. Isso trouxe a elevação da produtividade e a
bem-sucedida implantação de culturas de exportação no cerrado do Planalto
Central. Por outro lado, a ênfase nos empreendimentos econômicos começa agora a
apresentar a conta. E ela é meio salgada: como evidenciado nas reportagens, o
avanço da agropecuária ameaça novos redutos da floresta, assim como unidades de
conservação e terras indígenas. Tal ação ocorre, no caso de regiões como São
Félix do Xingu, em meio a problemas de regularização fundiária, grilagem de
terras e extração ilegal de madeira. Em Mato Grosso, empresários da agricultura
abrem as porteiras para práticas mais civilizadas, mas num contexto em que boa
parte da floresta já foi retirada (como se vê no quadro 2).
Proponha que a
turma organize as informações debatidas até aqui e reflita sobre os custos e
benefícios desse percurso.
3ª etapa
Retome as
discussões da aula anterior e acrescente alguns dados. Mostre que, apesar dos
bons resultados econômicos da exportação de grãos, muitos questionam até que
ponto vale a pena tal grau de ocupação para produzir, entre outros produtos,
farelo de soja para alimentar gado na Europa. Não seria mais interessante - e
lucrativo - investir em polos industriais e na agricultura de precisão, como
mostrado na reportagem "Nossas vitórias internacionais"? Quais ações
precisam ser tomadas para que essas iniciativas se estendam para outras
cidades? Quais são os interesses por trás da manutenção de grandes propriedades
voltadas para produção de produtos de baixo valor de mercado?
Questiona-se
também por que não são feitos investimentos efetivos para aproveitar o
potencial da região para os chamados serviços ambientais (manutenção de
espécies, equilíbrio climático, retenção de CO2 etc.) e para usos sustentáveis,
como a coleta e o processamento de bens florestais.
Avaliação
Tendo em vista
os principais aspectos do tema discutido nas aulas, peça que os alunos produzam
um texto argumentativo em que eles proponham uma maneira de aliar
desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. Para isso os alunos
podem se valer de pesquisas em fontes que forneçam informações sobre
desmatamento (aqui),
industrialização (aqui)
e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH - aqui), assim como outras
fontes de informação confiáveis. Nos textos, verifique se os estudantes
conseguem relacionar a discussão feita em sala com os dados colhidos das
diferentes fontes. O ideal é que apresentem os argumentos básicos da disputa
desenvolvimento versus preservação e possíveis soluções de intervenção que
conciliem esses dois objetivos, como uso de tecnologias não poluentes, polos
industriais que respeitem modernas leis ambientais, agricultura de precisão
etc.
Consultoria Roberto
Giansanti
Geógrafo e autor de livros didáticos
Geógrafo e autor de livros didáticos
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/mata-morre-428073.shtml
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