Proposta de texto: deve-se fazer tudo para ser feliz?
O artigo “A arte de ser
feliz” da edição de 23 de julho de 2014 da Revista Veja traz o questionamento
sobre os limites e as iniciativas do que se pode fazer para conquistar a
felicidade. Esse foi o tema da proposta de dissertação na prova de filosofia do
vestibular francês deste ano. O artigo traz diversas linhas de discussão sobre
o tema e propõe uma reflexão. A sugestão é usar o roteiro abaixo em conjunto
com a apresentação de slides que preparamos para sua aula.
Começo de conversa
Leia com a turma o artigo e
peça para que os alunos levantem os principais trechos com argumentos do
filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) em sua conceituação sobre
felicidade. No texto, a classe deve identificar os tópicos abaixo:
1)
Estar ciente de que
só a dor é verdadeira.
2)
Evitar a inveja: ela
tortura quem a nutre e, por esse motivo, causa infelicidade.
3)
Ser fiel a si
próprio.
Esclarecendo a discussão
O que é a felicidade?
Debata com a turma os
argumentos de Schopenhauer, levantando questionamentos.
-Todos concordam com os
três pontos?
-O argumento de que a
felicidade é ausência de tristeza ou de inveja é válido?
-De que forma esse tipo de
construção pela negativa (“ausência de…”) é interessante para fortalecer a
argumentação?
Em seguida, leia e discuta
com os alunos as definições e os conceitos de felicidade apresentados a seguir
(retirados do plano de aula “Pergunte aos alunos se a felicidade é apenas um
estado de espírito”). A ideia, aqui, é levá-los a identificar a ideia central
de cada autor.
Epicuro (340-270 a.C.)
Filósofo da Antiguidade
grega, foi um materialista. Para ele, o universo era feito de partículas
indivisíveis - os átomos -, incluindo aí corpos e espíritos dos homens e dos
deuses. Dessa forma, sua filosofia desemboca numa crítica da intervenção divina
nas atividades humanas. Para Epicuro, o bem maior era a busca de prazeres
moderados, como a tranqüilidade e a ausência do medo, por meio do conhecimento.
Essa filosofia recomendava também a abstenção de excessos como forma de
prevenir desilusões posteriores.
Voltaire (1694-1778)
Pseudônimo literário de
François-Marie Arouet. Foi um dos autores mais importantes do chamado
iluminismo na França. Escreveu peças teatrais, poesias, contos, romances e
ensaios filosóficos. Sua obra mais conhecida é Cândido, de 1759, romance que
ridiculariza o preceito de que "tudo é para o melhor neste, o melhor de
todos os mundos", numa referência implícita aos horrores da Europa no
século XVIII. Em suas polêmicas, Voltaire atacava o otimismo filosófico e
religioso.
John Stuart Mill (1806-1873)
Filósofo inglês e
economista político importante para todo o pensamento liberal, abraçou o
utilitarismo, corrente fundada por Jeremy Bentham no século XVIII. Um exemplo
interessante de sua preocupação com a liberdade é o seu princípio de que as
pessoas poderiam se comportar como quisessem, desde que isso não prejudicasse
os outros. O utilitarismo pode ser pensado como uma ética que prega mais
felicidade para o maior número de pessoas. Para Mill, o correto era seguir as
regras (e não somente os atos) que garantiriam a maior felicidade possível.
Jean-Paul Sartre (1905-1980)
Pensador francês e fundador
do chamado existencialismo, ganhou celebridade nos anos 50. Pregava que a
experiência humana precede qualquer julgamento moral, divino ou qualquer
essência. Ou seja, para ele não havia regras fundamentais, sagradas ou
essenciais que pudessem guiar nossas atitudes e nossos valores. Essa filosofia,
influenciada por Nietzsche, é criticada por supostamente celebrar o niilismo.
Seus defensores argumentam que não se trata disso, mas de construir referências
próprias, sem imposições.
Os aspectos da discussão
O que significa ser feliz hoje?
Desafie os grupos a
comparar as ideias de Schopenhauer, Sartre, Stuart Mill, Voltaire e Epicuro com
os dias de hoje, com base no trecho do artigo a seguir:
“Tema frequente no universo
pop, em especial em relação ao amor, a felicidade é um assunto exploradíssimo
no mundo da propaganda - de comerciais de supermercado aos de banco, passando
pelas inevitáveis cenas familiares dos anúncios de margarina. Em ambos os
casos, vende-se a ideia de satisfação permanente, de encantamento suspenso no
tempo e no espaço, de euforia de balada. A estratégia é legítima, embora vá de
encontro à realidade tão bem expressa pela máxima do moralista François de la
Rochefoucauld: ‘Não se é jamais tão infeliz quanto se crê, nem tão infeliz
quanto se esperava’.”
Instigue a turma a apontar
semelhanças e diferenças entre as concepções filosóficas e a apresentada nas
propagandas contemporâneas. Faça uma lista no quadro com as opiniões levantadas
pelos estudantes.
O que é ser feliz para você?
Peça aos alunos que
respondam à pergunta “o que é ser feliz para você” e, em seguida, que
socializem as respostas com a turma e, com base nelas, nas concepções dos filósofos
e na relatividade do tempo abordados anteriormente, discuta como há diversas
concepções de felicidade.
Resumindo
Nessa indicação de
discussão de texto, o roteiro sugerido é partir do tema “Felicidade” por um
caminho que envolva:
• Identificação dos
argumentos do texto
• Esclarecimento sobre o
conceito de felicidade para Schopenhauer
• Leitura sobre o conceito
de felicidade para outros filósofos
• Análise comparativa sobre
os conceitos de felicidade e o mundo atual
• Reflexão sobre o sentido
da felicidade para si e sua relatividade
• Proposta de texto
argumentativo sobre os limites da busca da felicidade
Avaliação
Peça aos alunos que
escrevam um texto argumentativo que responda à pergunta: “Deve-se fazer de tudo
para ser feliz?”.
Ao analisar a redação,
considere o que os alunos aprenderam sobre as diferentes noções de felicidade e
se exprimem adequadamente por escrito esses conceitos. Avalie também como a
turma entende a relação de nossa sociedade com a felicidade e o quanto isso
influencia suas ações nos grupos sociais de que participam. Verifique, por fim,
a capacidade de articulação das ideias abordadas sob forma de argumentação no
texto.
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