Falar antes de escrever
Propor rodas
de conversa antes das atividades de escrita pode ajudar os alunos a adquirirem
maior fluência ao escrever
Um dos grandes
desafios da EJA, especialmente com os alunos que se alfabetizam já adultos, é
melhorar a expressão escrita.
Escrever é
bastante diferente de falar. Aprendemos a falar, na imensa maioria dos casos, quando
ainda somos muito crianças, quase “sem querer”. É claro que se trata de um
processo complexo, cheio de influências biológicas, sociais e culturais. No
entanto, é tão corriqueiro observarmos uma criança crescer e aprender a falar
que encaramos a aquisição da fala como algo natural.
O escrever,
contudo, não se desenvolve da mesma forma. Na maior parte das vezes, a
aquisição da escrita acontece na escola e precisa da intermediação de um
professor, que intencionalmente proporciona situações para que ela ocorra.
Podemos
encarar o processo de aprender a escrever como uma transição da fala para
a escrita; embora essa seja uma simplificação, pode ser útil em termos
didáticos. Na escola, é preciso fazer essa transição juntamente com os alunos,
repisando o caminho de como uma fala pode ser escrita, explicitar que essa
transição está sendo feita, para que os alunos se familiarizem e se desenvolvam
no processo.
Seguindo dicas
de uma colega professora de Língua Portuguesa e estudando um pouco sobre o
assunto, aprendi que o desempenho dos alunos nas produções escritas melhora
bastante se, antes de escrever, eles falarem sobre o que escreverão. Por
exemplo: após realizar um experimento na aula de Ciências, é interessante que
os alunos registrem por escrito o que vivenciaram. Geralmente, o experimento
ocupa uma aula e o relatório sobre ele, mais uma.
Quando iniciei
na EJA, eu propunha que os alunos, após a aula do experimento, passassem
diretamente à escrita na aula seguinte. Depois dessa dica, eu mudei o
encaminhamento e fazemos uma roda de conversa sobre o que aconteceu no
experimento, os materiais que usamos, os resultados obtidos etc. Nessa roda, eu
peço que os alunos falem em voz alta como se “estivessem escrevendo”. Um
exemplo: “Pegamos um termômetro, fomos ao laboratório e ao pátio e medimos a
temperatura do ambiente nesses dois lugares.”
Percebi que,
depois de conversar sobre o assunto, o desempenho dos alunos na escrita é muito
melhor. A conversa nesse contexto cumpre uma dupla função: rememorar o
experimento (pois muitos alunos esquecem os detalhes do que vivenciaram) e
fornecer modelos para o registro escrito. Muitos alunos com dificuldades, ao
ouvir as propostas dos colegas, têm ideias de como podem proceder. Na medida em
que fazemos atividades semelhantes, aos poucos vão se soltando e dando suas
próprias sugestões.
Obviamente,
inserir a roda de conversa nessa sequência didática ocupa tempo (nosso recurso
mais precioso!). Contudo, na minha avaliação, esse investimento vale
a pena. Quando eu conduzia a atividade sem a conversa, acabava gastando o mesmo
tempo recordando o que tinha acontecido, dando sugestões sobre como iniciar e
desenvolver o texto… Enfim, acabava fazendo a mesma coisa que agora fazemos
coletivamente nas rodas de conversa.
Como você vê
essa questão? Na sua experiência, o “falar antes” melhora o escrever?
http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/07/23/falar-antes-de-escrever/
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